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Cultura

D. Quixote quer ser futebolista na estreia que abre o festival de teatro Acaso

“O Nariz” assume que o novo espetáculo é “uma peça burlesca de natureza patética” à volta de um herói que perde a razão a ler jornais desportivos. “O dom de Rixote” estreia esta sexta-feira em Leiria e em outubro vai à Batalha e à Marinha Grande.

Uma adaptação de “D. Quixote”, de Miguel Cervantes, em que o herói sonha ser futebolista, estreia-se na sexta-feira em Leiria, na 25.ª edição do festival Acaso, organizado pelo grupo O Nariz, que também encena a nova comédia dramática. 

“O dom de Rixote” é uma adaptação de Pedro Wilson, do clássico do século XVII, e coloca o cavaleiro andante como um sonhador transtornado pela leitura de jornais desportivos. Apesar de já ter passado da meia-idade, alimenta a ambição de ser estrela de futebol, enfrentando adversários ficcionais como se fossem moinhos de vento.

A companhia O Nariz, que organiza o Acaso – Festival Internacional de Teatro, descreve a nova produção como “uma peça burlesca de natureza patética”, que se desenvolve “à volta do idealismo fantasioso” de Rixote, interpretado pelo ator Pedro Oliveira, sempre acompanhado por Sancho, a que Nuno Crespo dá vida.

“D. Quixote é um personagem que está atrasada no tempo. Vive no século XVII mas a mente dele remete para a Idade Média. Aqui, Rixote, em vez de ler os romances de cavalaria, é muito influenciado pel’A Bola e pelo Record, pelo Mundo Desportivo e Correio da Manhã”, explica Pedro Oliveira.

A seu lado está Sancho, que surge como “leal escudeiro”, mas também como “um ‘personal trainer’ e massagista, que lhe promete uma série de coisas que nunca acontecem”.

O texto está repleto de referências ao futebol de outros tempos. “Ele tem 60 ou 70 anos e quer ser jogador de futebol. Mas como D. Quixote, que quer ser cavaleiro andante fora de época, aqui ele quer ser jogador da bola como aqueles que já ninguém conhece”. 

Em palco vão sendo lembrados craques de outros tempos, como os “Cinco violinos” do Sporting, Eusébio, Coluna, José Torres, Rogério Pipi ou Bento, do Benfica, Pavão e Rudolfo, do FC Porto, os treinadores Otto Glória e Cândido de Oliveira, entre outros.

A ideia, explica o ator, era levar “O dom de Rixote” até plateias com público mais velho, “que ouviu falar naqueles nomes”. 

Na impossibilidade disso acontecer devido à covid-19, o texto pensado por Pedro Wilson – filho de outra glória do futebol nacional, Mário Wilson – desenvolve-se “na fronteira do palpável e do imaginário”, culminando na decadência do herói principal. 

“No Cervantes, ele vai-se destruindo fisicamente por causa dos combates em que se mete. Aqui também acontece, por causa do futebol. Ao longo da história”, nota Pedro Oliveira, “as maleitas vão sendo cada vez maiores”. 

“O dom de Rixote” estreia-se em Leiria, na sexta-feira, no Teatro Miguel Franco.

A 25 de outubro a peça vai à Batalha e, no dia 29 de outubro, sobe ao palco do Teatro Stephens, na Marinha Grande.

Estas representações acontecem no âmbito do Acaso – Festival Internacional de Teatro, que leva 14 espetáculos a Leiria, Batalha e Marinha Grande, entre 18 de setembro e 31 de outubro.

A programação do festival envolve perto de uma dezena de estruturas e pode ser consultada em http://www.onariz.pt/acaso/edicao/25o-acaso/.

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