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Sociedade

Quando as noites da Praia do Pedrógão eram “Cinza Rosa”

A morte da cantora brasileira Mara Abrantes trouxe à memória as noites de um dos bares mais emblemáticos da região, nos finais da década de 80.

Banda residente do bar Cinza Rosa na praia do pedrógão

Mara Abrantes morreu esta quarta-feira, 28 de abril, aos 86 anos, no Hospital de Santo António dos Capuchos, em Lisboa. A cantora brasileira nasceu no Rio de Janeiro a 31 de maio de 1934 e residia há mais de 50 anos em Portugal.

Na região, ficou conhecida por ter sido uma das impulsionadoras do bar Cinza Rosa, na Praia do Pedrógão. A cantora foi desafiada pelo músico Jorge Humberto, que residia na Marinha Grande, de quem partiu a ideia de abrir um espaço noturno diferente, com música ao vivo. A eles se juntou António Mendes e, em 1988, nasceu na única praia do concelho de Leiria, o Cinza Rosa. “Éramos três sonhadores, três amantes da música, três almas gémeas”, recorda Jorge Humberto.

O bar cedo se transformou num local de referência da vida noturna de Leiria. Ao REGIÃO DE LEIRIA, Jorge Humberto recorda que foi “uma pedrada no charco”, diferente de tudo o que se via à época. “Às 21 horas, quando íamos abrir a porta, ficávamos loucos com a fila que se estendia pelas escadas, de gente que estava à espera para ter um lugar na mesa, eram noites esgotadas”, recorda. Lembra-se ainda do “silêncio” – algo incaracterístico para um bar – durante as atuações.

Além de Mara Abrantes, Jorge Humberto e António Mendes, integravam a banda residente Tony Jackson, Tó Freitas, Toni Fernandes e Mário Dias. Rui Venâncio era outro dos músicos que atuava com frequência na casa que chegou a receber alguns artistas do panorama nacional.

A morte da artista brasileira trouxe a Jorge Humberto as recordações do “espaço fantástico” que foi o Cinza Rosa, mas também a imagem de “uma mulher meiga, com um coração enorme”.

Mara Abrantes, que deu voz a temas como “Qualquer Dia, Qualquer Hora” ou “Horóscopo” veio para Portugal, em 1958, com a revista “Fogo no Pandeiro”, por três meses. Rapidamente assinou contrato com a discográfica Valentim de Carvalho e gravou com o Thilo’s Combo, do maestro Thilo Krassman (1933-2004).

Recentemente, desenvolveu trabalho como voluntária no Instituto Português de Oncologia, em Lisboa, e, enquanto funcionária da ex-RDP, participou na campanha “Pirilampo Mágico”, de apoio às Cooperativas de Educação e Reabilitação do Cidadão Inadaptado (CERCI).

A carreira de Mara começara no Brasil, onde, ainda estudante, foi solista do Coro do Ministério da Educação e, aos 16 anos, venceu um concurso de novos talentos dirigido pelo compositor Ary Barroso (1903-1964).

A artista participou em seguida em várias séries televisivas e tornou-se cantora residente no restaurante A Cantina do César, do radialista César de Alencar (1907-1990), e, posteriormente, na ‘boîte’ Estúdio do Teo, onde conheceu Tom Jobim, que escreveu letras para o seu repertório.

Na década de 1950 fez parte do elenco de várias revistas e participou como atriz em cinco filmes, entre eles “A Dupla do Barulho” (1953) de Carlos Manga, “Malandros em Quarta Dimnensão” (1954), de Luiz de Barros, e em “Angu de Carroço” (1955), de Eurípedes Ramos.

A sua carreira tomou maior projeção no Brasil, quando uma canção que gravou, “Um tiquinho mais”, de Newton Ramalho e Nazareno de Brito, foi proibida pela Censura, chamando a atenção da crítica e dos jornalistas.

Em Portugal, na década de 1960, fez carreira como cantora, tendo gravado, entre outros, o disco “Natal Feliz” (1967) e, com o conjunto do maestro Shegundo Galarza (1924-2003), o EP “Sentimental Demais”.

Da sua discografia constam temas como “Quem É Homem Não Chora”, “Máscara Negra”, “Disparada” e “Maria do Maranhão”, tendo participado em vários programas televisivos, nomeadamente no popular “Melodias de Sempre”, de Jorge Alves (1914-1976).

Em 1968, dirigida pelo maestro Ferrer Trindade, gravou versões de canções que tinham concorrido ao Festival RTP desse ano, conquistado por Carlos Mendes com “Verão”.

Dez anos depois, a convite de frei Hermano da Câmara, participou no musical “O Nazareno”, no papel da Samaritana, tendo sido gravado um LP.

No ano seguinte, o seu EP “OS Amantes” vendeu mais de 25.000 exemplares, o que lhe valeu um Disco de Prata, e na senda deste sucesso gravou “Horóscopo”.

Em 1980 gravou a canção “Amor, Amor à Portuguesa”, banda sonora da novela “Moita Carrasco” do programa televisivo “Eu Show Nico”, do ator Nicolau Breyner (1940-2016).

No ano seguinte, com a filha Magda Teresa e o Coro Infantil de Santo Amaro de Oeiras, gravou uma versão da canção “Guerra dos Meninos”, de Roberto Carlos. Voltou a gravar um tema do repertório do cantor brasileiro, “Tudo Para”, em 1983, e “Café da Manhã”.

Mara Abrantes gravou ainda várias versões, entre elas, “Um jeito Estúpido de Te Amar”, “Foi Deus”, “Na Rua dos Meus Ciúmes”, “Fado da Carta”, “Madragoa” ou “Balada para Dona Inês”.

Mara conta dois álbuns de estúdio, ambos editados na década de 1970, intitulados “Mara Abrantes” (Riso e Ritmo) e “na Boca do Povo” (Movieplay Portuguesa), e um com a compilação dos seus êxitos na série “O Melhor dos Melhores” (Movieplay Portuguesa), coordenada pelo produtor Mário Martins.

Com Lusa

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