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Tragédia de “O judeu” é contada cheia de cor pelo Leirena e Filarmonia das Beiras

Primeiro em Aveiro, já este sábado, e depois em Leiria, no dia 24 de setembro, recorda-se a história de António José da Silva, prolífico autor luso-brasileiro que morreu queimado pela Inquisição.

As velas e os desenhos de Nuno Viegas são elementos marcantes da nova peça do Leirena Teatro. A partir da biografia e da obra de um dos autores portugueses mais relevantes do século XVIII, constrói-se um espetáculo marcado pela fisicalidade dos atores, inspirados pela commédia del’arte, para contar a história de António José da Silva. “O judeu” estreia no Teatro Aveirense e repete em Leiria, no Teatro José Lúcio da Silva, no dia 24 de setembro Carlos Gomes/Leirena

Mais de 500 velas e muitos quilos de adereços de cera, uma orquestra de 20 elementos, seis atores e um desenhador frenético integram a receita do Leirena Teatro para contar a história de António José da Silva (1705-1739). “O judeu” foi montado nas últimas semanas em residência artística nos Marrazes e estreia este sábado. Em Aveiro revela-se o resultado da coprodução entre a companhia de teatro de Leiria e a Orquestra Filarmonia das Beiras, criada a convite do Teatro José Lúcio da Silva e do Teatro Aveirense.

Dramaturgo, poeta e advogado, o luso-brasileiro António José da Silva, conhecido como “O judeu”, teve uma vida trágica: a família foi para o Brasil (onde o autor nasceu) para fugir à perseguição religiosa, mas nem assim escapou da morte às mãos da Inquisição, já em Portugal. Na curta existência (mataram-no aos 34 anos) conseguiu, ainda assim, ser bastante produtivo: só entre 1735 e 1737 escreveu nove óperas.

“Imagine-se se tivesse sobrevivido, que património não teria Portugal hoje…”, indaga Frédéric da Cruz Pires. Foi o encenador do Leirena que trouxe José da Silva para o centro desta encomenda dos teatros de Leiria e Aveiro. “É o maior dramaturgo português do século XVIII” e “a sua obra não é, de todo, posta em cena dos compêndios da literatura portuguesa”. Por isso, idealizou-se um espetáculo biográfico que dá a conhecer vida e obra de “O judeu”, com música ao vivo da Filarmonia das Beiras e desenho de Nuno Viegas projetado em tempo real. O performer digital é peça essencial na narrativa.

“É como outro ator em palco, interagindo, com o seu traço, em cada cena”, realça o encenador. Viegas, que vive em Castanheira, Alcobaça, enche de cor e uma dose de delírio toda a história, numa citação ao período Barroco. E a cera?

“Tem um lado simbólico, relacionado com a religião e a Inquisição”, explica Frédéric, admitindo que a dificuldade em manipular as velas e a matéria-prima, derretida em tachos para ser trabalhada. “É arriscado mas a nossa função é pesquisar, explorar e dar ao público”.

Igualmente arriscado é o registo que aborda vários episódios dramáticos da história de forma cómica. “António José da Silva fazia óperas joco-sérias. São maravilhosas, fazem pensar. Ele seguia a máxima ‘zombando se dizem as verdades’ e nós aplicámos a mesma fórmula”. “O judeu” estreia dia 10 no Teatro Aveirense e depois é apresentado no Teatro José Lúcio da Silva, em Leiria, no dia 24.

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