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Cultura

Jazz encontra a música tradicional em Pombal no projeto “Sons do bracejo”

A partir do bracejo, o músico André Ramalhais transformou o cancioneiro tradicional da Ilha em sonoridades jazz. O resultado é apresentado esta sexta-feira, dia 24.

O cancioneiro da Ilha, uma das freguesias do concelho do Pombal, no distrito de Leiria, é revisto em formato jazz pelo quinteto liderado pelo trombonista André Ramalhais, que estreia na sexta-feira, dia 24, o projeto “Sons do bracejo”.

A partir do simbolismo do bracejo, fibra vegetal abundante na localidade da Ilha, usada para o fabrico de cestos pelas chamadas capacheiras, o músico está há um ano a desenvolver roupagem jazzística para temas tradicionais da freguesia, integrada na União das freguesias de Guia, Ilha e Mata Mourisca.

Natural de um lugar vizinho da Ilha, André Ramalhais é músico da Orquestra Jazz do Algarve e toca regularmente com a Orquestra Jazz do Porto. Mas foi ali, no concelho de Pombal, perto de onde nasceu, que encontrou inspiração para a combinação original.

“Estávamos num cafezinho histórico da Ilha, que tem cento e tal anos, e disse que queria fazer qualquer coisa ali, porque a Ilha tem muito potencial cultural”, contou à agência Lusa.

Um amigo apresentou-lhe o cancioneiro local e André achou “incrível uma terra tão pequena” – menos de dois mil habitantes – “ter música própria, com letras em que se fala do que o povo fazia antigamente”.

Com o também músico Evandro Capitão e o grupo “Os Semibreves”, pesquisou sobre aquelas canções junto das capacheiras, “senhoras que têm 80, 90 anos”. Inspirado pelo projeto “Deixem o pimba em paz”, de Bruno Nogueira, escreveu novos arranjos para aquele cancioneiro.

“Os acordes do pimba são mais ou menos idênticos à música tradicional. E como achei a ideia do Bruno Nogueira muito interessante, tentei experimentar com música tradicional da Ilha. Comecei a fazer, gostei do resultado e avancei com o projeto”, explicou.

André Ramalhais procura inovar e, também, promover o trabalho das capacheiras que, durante a pesquisa, lhe revelaram tristeza pelo futuro incerto da arte do bracejo.

“Sons do bracejo” ambiciona, por isso, promover o trabalho de quem está “a tentar não deixar morrer essas tradições incríveis”.

Para o trabalho de rescrita, foi necessário mergulhar às raízes do jazz, os blues, “canções de trabalho, que os escravos cantavam para a apanha do algodão”, na América do Norte.

“Ou seja, também eles eram trabalhadores do campo, eram pessoas que não tinham formação em música, nem direito a nada. E se eles conseguiram, porque eu não ia conseguir fazer uma música tradicional da Ilha, aproximando-a ao jazz? E o resultado é que… soa-me a jazz!”.

A partir dos dois ou três acordes destas músicas tradicionais, manteve-se a melodia, mas alterou-se a harmonia. “A vocalista vai cantar as melodias e as letras na sua integralidade. Basicamente, só ela é que vai cantar a parte que toda a gente conhece. Nós vamos mudar tudo por baixo”.

A três dias da estreia, André Ramalhais admitiu alguma tensão.

“Vamos tocar músicas que toda a gente conhece. As pessoas estão curiosas e isso deixa-me um bocado nervoso. Só que vão ouvir aquilo completamente diferente. Estou curioso para ver a reação”.

“Sons do acaso” tem a primeira apresentação na Casa Varela, em Pombal, na sexta-feira, às 21h30. No domingo, há outro concerto no Salão Paroquial da Ilha, também no concelho de Pombal, às 18 horas.

O quinteto de André Ramalhais integra Cristiana Costa (voz), Adelino Oliveira (baixo), Tiago Ferreira (piano) e João Maneta (bateria), que irá usar o bracejo da Ilha como baquetas nos concertos.

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