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“O digital nunca vai substituir o papel”

Sara Vieira é diretora do jornal Região de Cister

Do seu ponto de vista, que relevância mantém a imprensa no contexto atual, sendo que estão disseminadas plataformas diversas de comunicação?

A relevância é cada vez maior. Mudam os tempos, mas a missão do jornalismo não muda. O jornalismo é um serviço público, que deve ser cada vez mais valorizado e robustecido. O papel da imprensa é essencial no escrutínio, na validação dos factos, no confronto de opiniões, na reflexão e na investigação. Mesmo não estando na sua melhor forma física, a imprensa é ainda um porto seguro de credibilidade, independência, isenção e pluralismo. Publicar nas redes sociais não é a mesma coisa que publicar uma notícia num jornal. Um cidadão informado, esclarecido e atento saberá destrinçar a opinião da informação.

Como avalia a dinâmica da imprensa local e regional e a capacidade de assegurar as atividades informativa e de escrutínio, nomeadamente no que se refere a esta região de Leiria?

O distrito de Leiria é muito sui generis no que à imprensa local e regional diz respeito. Só o concelho de Alcobaça tem três jornais (um semanário, um quinzenário e um mensário) e duas rádios. A dinâmica desta região resultou na dinâmica da imprensa local e regional dos vários projetos editoriais que floresceram neste território. Por outro lado, há uma fragmentação de identidades no distrito, o que, creio, justificará a existência de jornais como o Região de Cister, que abrangem apenas alguns concelhos. Isto porque, quanto maior for a proximidade do jornal aos seus leitores, maior será a importância e a confiança que os leitores lhe dão. Apesar disso, os modelos económicos que sustentaram a imprensa durante várias décadas hoje não funcionam e estão a afetar seriamente a qualidade editorial da imprensa local e regional. Não há tempo, não há recursos e o tal serviço público começa a tornar-se uma missão quase impossível. A imprensa local e regional mantém-se viva graças à teimosia dos jornalistas e à confiança dos leitores.

Acredita que a imprensa tem condições para cumprir a sua função com a consolidação do paradigma digital?

O digital nunca vai substituir o papel. As receitas continuam no papel, os leitores continuam a preferir assinaturas impressas, a valorização do produto está no papel e por isso não percebo a febre do clickbait e do copy paste das notícias do papel para o online. Olho para o digital como uma extensão ao papel, através da aposta de conteúdos multimédia. É como ler um livro e ver um filme baseado no livro. Nunca poderá ser o contrário.

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