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Leiria

Idosos de Leiria fazem capoeira e “gingam na melhor idade”

As aulas dos capoeiristas da Academia de Capoeira Ginga Camará animam as segundas-feiras dos utentes do lar Eira da Torre, em Santa Eufémia, Leiria.

Os utentes praticam capoeira com a ajuda dos elementos da Academia de Capoeira Ginga Camará Foto: Leiria Desporto

Os utentes do lar Eira da Torre, em Santa Eufémia, no concelho de Leiria, estão a ter aulas de capoeira, no âmbito do projeto “Gingando na Melhor Idade”, que tem contribuído para o seu bem-estar.

Há cerca de três meses que as segundas-feiras são diferentes na casa de 64 idosos. As aulas de capoeira de Jimmy Almeida (mestre Papagaio) e de Joana Palhas (professora Beringela) animam as manhãs dos utentes, cujos sorrisos surgem no rosto assim que a dupla entra na sala.

Alguns que se encontravam meio adormecidos despertam e outros endireitam-se nas cadeiras para dar as boas-vindas aos capoeiristas da Academia de Capoeira Ginga Camará, que rapidamente colocam a música no ar. As palmas e as cantigas vão fluindo pela sala.

A animação característica da capoeira e o cantarolar de várias letras, onde a música tradicional portuguesa “Alecrim aos molhos” também tem lugar, quase hipnotiza os utentes, cujos corpos são como levados por todo o ambiente a mexerem-se.

É a ponta do pé que mexe, o braço que se move para a direita e para a esquerda e são as palmas ritmadas que tomam conta de todos.

As dores ou a falta de mobilidade típicas da idade não impedem alguns idosos de praticarem capoeira à sua maneira.

A ternura de Joana Palhas desafia alguns utentes a levantarem-se e a “gingar” um pouco de pé, mesmo que tenham a ajuda das canadianas.

“O que é o berimbau? Uma cabaça, um arame e um pedaço de pau!” O mestre Papagaio vai também dando os acordes das músicas para que os idosos possam segui-lo e repetir o refrão.

O toque de Angola é o utilizado nestas aulas, já que é “mais lento, com uma explosão muscular menor”, explicou à agência Lusa Jimmy Almeida.

“Estou sempre animada e não posso estar quieta, mesmo tendo dificuldades. Esta atividade é mais uma que nos ajuda a distrair e contribuir para nos sentirmos bem. Não consigo fazer tudo, mas faço o que posso”, afirmou à Lusa Inácia Ruivo, 90 anos, que passa a aula a ‘meter-se’ com os professores: “Capoeira? Em Portugal, capoeira é das galinhas”, brincou.

Manuel Ferreira, 87 anos, costuma ser um dos mais participativos, mas na segunda-feira sentia-se um pouco cansado. Mas não deixou de entrar no ritmo e, sentado na sua cadeira, acompanhou os movimentos como pôde.

“Fui desportista e sempre fui muito mexido. Hoje, estava um pouco cansado”, assumiu.

Para este antigo gestor bancário, a capoeira traz alegria ao dia: “Tento sempre fazer o que consigo. Se não se tentar fazer as coisas, morre-se”.

Gingando na Melhor Idade surgiu de uma proposta de Jimmy Almeida ao Município de Leiria, que no ano em que foi Cidade Europeia do Desporto apoiou o projeto por um ano.

“Sabemos o quanto impactamos na vida destas pessoas. A capoeira tem o poder de mexer com a circulação sanguínea, condição física e motora e influencia o estado de espírito, contribuindo para a interação entre as pessoas”, realçou à Lusa o mestre Papagaio.

“É maravilhoso sentir aquilo que eles nos dão. Só o facto de tentarem fazer alguma coisa, levantarem um pouquinho o pé é maravilhoso”, acrescentou Joana Palhas, ao sublinhar que na primeira semana só três ou quatro é que participaram mais ativamente e três meses depois a adesão é bem maior.

Animadora sociocultural do lar Eira da Torre, Margarida Feliciano confessou que a sua primeira reação foi de receio.

“Capoeira associada à terceira idade? Mas é uma atividade de extrema importância. Promove o exercício físico, a atenção, a concentração e o envolvimento entre eles”, disse, ao considerar que a capoeira contribui para o “bem-estar e uma melhor qualidade de vida”.

“Notamos isso até na adesão. Já sabem que à segunda-feira vem o Jimmy e logo aí se veem os sorrisos. Acreditamos neste projeto, que tem sido um desafio extremamente interessante e que já levou a atividades intergeracionais. As coisas, sendo adaptadas a estas faixas etárias, são recebidas com outra gratidão e outro carinho e todos são capazes de fazer tudo. Não há barreiras”, rematou Margarida Feliciano.

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