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Teatro

A história da rainha que esteve presa no Castelo de Ourém inspira uma peça que se ouve

Dona Mécia, rainha de Portugal por casamento com Sancho II, dá nome a uma das torres do Castelo. E é lá que, a partir deste sábado, 24 de junho, o público é convidado a descobrir a peça de teatro sonoro “A partida de Mécia”.

É na janela onde se terá sentado D. Mécia enquanto esteve reclusa no Castelo de Ourém que o público é convidado a imergir em "A partida de Mécia" FOTO: TMO/Tiago Correia

O drama de D. Mécia, que terá estado presa no Castelo de Ourém no século XIII, está na origem da peça de teatro sonoro que a companhia A Turma estreia no sábado, 24 de junho, e que durante este verão pode ser ouvida naquele monumento de Ourém.

Durante 40 minutos, com auscultadores fornecidos pelo Castelo de Ourém, o público é convidado a colocar-se no lugar – físico e psicológico – da mulher que foi rainha consorte por casamento com Sancho II, imergindo num monólogo a que a atriz Maria João Luís dá voz, para um áudio drama escrito e pensado por Tiago Correia.

A peça “A partida de Mécia” surge de uma encomenda feita à companhia A Turma para criar um objeto artístico inspirado no Castelo de Ourém. Das várias histórias que fazem parte da memória do monumento, Tiago Correia intrigou-se com o caso da rainha que dá nome à Torre D. Mécia: a mulher que terá sido raptada em Coimbra e mantida cativa em Ourém, longe do rei, para não gerar descendência.

A história, controversa e quase desconhecida, foi o ponto de partida para um texto e uma experiência sonora e imersiva na torre, algo “que falasse dessa mulher que foi muito maltratada pela história”, explicou.

Tiago iniciou uma investigação histórica – “a Wikipédia só diz mentiras sobre D. Mécia” -, foi descobrindo mais factos sobre a vida da rainha e, com “uma equipa muito pequenina”, A Turma produziu “todo um universo”, com música original e sonoplastia minuciosa, para convidar à “imersão na intimidade” de Mécia, “sozinha na torre, após muitos meses de solidão, e psicologicamente afetada”.

A cronologia imaginada remete-nos para aquele que será o último dia de prisão da rainha. “Vamos acompanhando esse dia de Mécia, num monólogo interior – e nunca mais ninguém a vem para levar”, descreve o dramaturgo, que pensou a peça enquanto “um filme sonoro em que o lugar em que o público está a presenciar a experiência é o cenário da ação”.

Tiago Correia procura colocar o ouvinte no papel da personagem, não só imaginando a história a acontecer na hoje denominada Torre D. Mécia mas, também, decidindo o que fazer se estivesse no lugar da rainha: 

“O que é que vale mais?  Mantermos-nos fiéis a um amor ou a nossa liberdade?”, interroga o autor.

O teatro sonoro sugere “uma relação poética com a experiência do percurso” e “traz também essa poesia ao próprio espaço”. 

“É uma experiência muito intimista e, durante aqueles 40 minutos, a vida fica lá fora”, salienta.

Cruzando a história de Mécia com a hierarquia do xadrez e a evolução das regras do jogo – sobretudo o surgimento da rainha ao lado do rei enquanto afirmação da mulher na sociedade e no ecossistema político -, Tiago Correia procura abordar “preocupações atuais”.

A par da desigualdade de género, evoca “todas as pessoas que têm de sair do seu país, porque o seu país está em guerra”, o que também aconteceu com a rainha consorte, leonesa de nascença, que teve de sair de um Portugal agitado pela guerra civil.

“Ela tentou sempre, até ao fim, manter a dignidade enquanto rainha. Ela é sepultada em Espanha e no túmulo pode-se ler-se ‘Rainha de Portugal’”, concluiu o dramaturgo.

A estreia de “A partida de Mécia” em Ourém é no sábado, a partir das 14h30, com a presença do autor, da atriz Maria João Luís e da restante equipa que criou a peça. 

Durante todo o verão, o teatro sonoro fica disponível para o público, por marcação (pelo e-mail museu@mail.cm-ourem.pt), em sessões limitadas a quatro pessoas que “se sentam nos banquinhos de pedra, no interior da torre onde D. Mécia terá estado presa”, concluiu Tiago Correia.

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