Gloria Masih, Dilpreet Kaur, Randeep Kaur, Kanak e Daman Jandu são jovens indianas, elementos da comunidade indiana da Marinha Grande. Em conjunto, enquanto dançam, são as Punjabi Girls. Na tarde desta quarta-feira, mostraram o ritmo, as cores e a tradição da terra natal na cidade do vidro. A hora era de festa com a abertura de um novo Gabinete do Centro Local de Apoio à Integração de Migrantes (CLAIM).
A comunidade indiana está entre as que mais cresceu nos últimos anos, absorvida pelo mercado de trabalho de um concelho rico em indústria e emprego. As jovens, a recuperar da aplaudida dança que encheu o átrio do Museu do Vidro, explicam ao Região de Leiria o que mais gostam das terras famosas pelo vidro e o pinhal.
Num claro e bem dominado português, Randeep Kaur deixa claro que as dificuldades de comunicação são, por vezes, os maiores entraves para quem chega. “Às vezes as pessoas não falam da forma mais feliz connosco e não percebem o que os indianos dizem”.
Entre elas, há quem tenha chegado há seis ou cinco anos, mas também quem tenha chegado há pouco mais de dois anos, ainda assim apresentando uma notável desenvoltura na língua de Camões: “os professores ajudam muito”, dizem.
Alunas nas escolas do concelho, que nota, de zero a 20, dariam à experiência de viver por cá? É positiva? “Sim”, asseguram. Dariam 12, 13 valores? “Não de 14 a 16”, explicam. E do que gostam mais? “Gostamos muito de Portugal da sua natureza, as praias e tudo o resto, é fixe”. A natureza, as paisagens, em suma, toda a envolvente é o que mais as encanta.
Para as jovens, a Marinha Grande passa à vontade no teste de quem a escolhe para viver, ainda que deixem o natural espaço para progressão, depreende-se.
Talvez o novo gabinete ajude a encurtar esse hiato. Sukhjal Masih é pai de uma das Punjabi Girls e está entre os mais antigos elementos da comunidade indiana na cidade. Chegou há 14 anos: “éramos cinco” indianos na cidade, recorda. Entretanto, comunidade engrossou bastante. Sukhjal Masil, que já é, também português, assistiu com interesse à cerimónia de inauguração do gabinete.
A funcionar junto ao edifício dos Paços de Concelho, o novo serviço promete funcionar como gabinete de acolhimento, informação e apoio destinados a ajudar migrantes em diferentes áreas. Da regularização da situação migratória, nacionalidade, reagrupamento familiar, habitação, trabalho, Segurança Social, ao retorno voluntário, saúde, educação, empreendedorismo ou apoio ao associativismo, as funções são variadas.
O marinhense luso-indiano que trabalha no sector da restauração da cidade, acredita que este novo balcão vai ajudar a facilitar a vida da sua comunidade. Contudo, assegura que o acolhimento tem sido “muito bom” e “sem problemas” ao longo dos anos, deixando muitos elogios ao apoio que tem sido prestado pelas autarquias locais. “Para mim Portugal e a Marinha Grande é muito bom, ajudam em tudo, com os estudos, com tudo”, resume.
“São todos marinhenses”
“Os desafios da integração social e da multiculturalidade estão hoje na nossa prioridade de ação”, sublinhou, Aurélio Ferreira, presidente da Câmara da Marinha Grande, na cerimónia que marcou a assinatura do protocolo que criou o gabinete estreado momentos depois. O autarca fez questão de enfatizar a importância e o peso que a comunidade imigrante tem na sociedade marinhense, explicando que os apoios sociais de responsabilidade municipal, são iguais para nacionais e imigrantes: “são todos marinhenses”, afirmou.
A dinâmica dos movimentos migratórios é de tal forma pronunciada que os dados ficam desatualizados num ápice. Pedro Portugal Gaspar, presidente da Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA), trouxe consigo, para a cerimónia de abertura do novo gabinete, os dados mais recentes, deste ano, e que deixam o retrato sumário da imigração: a Marinha Grande conta com 4.432 imigrantes, cerca de 10,8% da população concelhia, valor ligeiramente superior à proporção distrital, na ordem dos 9,5%.
Há uma realidade específica do concelho que ajuda a explicar o peso da imigração e a importância do CLAIM, é que “falar da Marinha Grande é falar de trabalho”, apontou Rui Armindo Freitas, secretário de Estado Adjunto da Presidência. Para o governante, “não há local em que faça mais sentido [a instalação de um CLAIM] que aqui”, atendendo à contribuição do concelho para as exportações e o crescimento económico.
Rui Armindo Freitas lembrou ainda que, para além da escola e das diversas instituições, as empresas têm um papel de relevo na concretização da integração daqueles que se juntam à comunidade lusa, fulcrais para ajudar a contrariar o inverno demográfico no nosso país.
Maria Fernanda, sorridente, com apenas 17 anos, natural do Brasil, (en)cantou na festa que se seguiu à inauguração do novo gabinete. Maria Fernanda, que todos conhecem como Mafe Rocha, gosta de música, adivinha-se que esse poderá ser um caminho sério na sua vida e que poderá fazê-lo por cá.
O que (en)canta Mafe Rocha
Há três anos na cidade do vidro, confessa que os primeiros meses foram difíceis, mas que a adaptação aconteceu e que, na Marinha Grande, encontrou uma comunidade mais aberta que a que encontrou na cidade de onde se mudou, Sever do Vouga. “Na Marinha Grande sinto-me integrada e bem, as pessoas têm mente mais aberta”, explica.
A jovem estudante (e cantora) foi acompanhada por Francelino Júnior, jovem de 21 anos de Porto de Mós, que elenca as vantagens de estar por terras lusas: “receberam-me muito bem”. Maria Fernanda compreende bem o fluxo migratório que tem acorrido à Marinha Grande e ao país. Afinal, “a vida no Brasil não é assim tão fácil e é compreensível que as pessoas venham em busca de uma vida melhor”. Francelino Júnior sintetiza a questão: “em termos de segurança, Portugal bate mil a zero o Brasil”.
Esta tarde, por momentos, a dupla de músicos brasileiros e as Punjabi Girls ajudaram o interior do museu do vidro a transmutar-se numa espécie de museu do vitral: palco de um puzzle colorido de novos sons e culturas que aí ecoaram e que se somam ao património da cidade do vidro.