Num país onde os cravos nasceram no cano das espingardas, o Governo decide, este ano, calar o Abril que nos libertou.
Diz que é por luto. Pelo Papa Francisco. Mas que ironia — logo ele, o Papa que fala aos pobres, que ergue a voz contra os muros, que chama “tirania” ao poder sem ética e “democracia verdadeira” à justiça social.
O governo que cala o 25 de Abril não está de luto. Está com medo.
Medo da memória. Medo do povo. Medo da palavra “Liberdade” dita em voz alta por crianças e velhos, por mães e professores, por quem ainda se lembra do que foi viver sem voz, sem voto e sem futuro.
O 25 de Abril não é só um feriado. É a fundação da nossa dignidade.
É a razão por que ministros são eleitos e não impostos.
É o direito de criticar, de cantar, de ensinar, de pensar, de viver sem abaixar os olhos.
Calar o 25 de Abril em nome de um luto é insultar quem morreu pela Liberdade.
É fingir que não houve censura, prisões, exílio, tortura.É tentar apagar a esperança que floresceu em 1974 — mas enganam-se.
Porque os cravos voltam.
Porque há escolas a contar histórias.
Porque há crianças que já sabem dizer “Liberdade” sem medo.
E porque um povo que não esquece o seu Abril nunca será domado.
Lígia Paula Luis
Leiria
VP disse:
Concordo plenamente, a liberdade é uma flor que deve ser sempre regada, porque há sempre o perigo de ela se perder pelo caminho, como aconteceu nos últimos meses na Romênia, na França e talvez agora na Alemanha. Liberdade também é o direito de discordar. Vale lembrar a frase atribuída a Voltaire: “Não concordo com o que você diz, mas daria a minha vida para que você pudesse dizê-lo”. Sempre e em todos os sentidos.