Antes de mais, devo informar os leitores que sou a areia da Praia da Vieira e, já há alguns anos, venho sofrendo calada. Para que os leitores compreendam melhor as minhas tristezas informo o seguinte: o rio Lis lança no mar toda a espécie de lixo, que o leitor facilmente compreende.
Há já alguns anos, nas vésperas da época balnear, no meu areal, um grupo de senhoras munidas de ancinhos e de bacias, juntavam o lixo num monte, que, posteriormente, era transportado para local apropriado. Entretanto, a tecnologia trouxe-nos as suas ajudas.
A substituir as senhoras vieram os tratores, mas que não colhem o lixo. Passam por cima dele, triturando-o e espalhando-o no meu areal, escondendo os efeitos nefastos que provocam nos pés de todos os que me procuram para descansar e receber o ar benéfico e o fresco do mar. Os banhistas entram no areal e até ao mar, descalços, vão pisando diversas vezes os espinhos do lixo triturado.
Eu, tristemente, sei que em diversas praias do nosso país existem também estes tratores. Contudo, já recorreram a novas tecnologias e as suas máquinas são equipadas com um sistema de crivo que, ao passar pelo areal, colhem o lixo e vão depositar em local apropriado.
Eu sou curiosa e guardo comigo algumas conversas das pessoas que me visitam, a fim de receber o ar fresco do mar e o calor do sol. Numa delas ouvi uma senhora, ainda jovem, perguntar ao grupo: Qual o objeto que não podem deixar de trazer para a praia?
E meus caros leitores!… a resposta foi breve. Quase todo o grupo pessoal respondeu: telemóvel. Todavia, um jovem, respondeu: “Eu não consigo vir à praia sem calções de banho e os sapatos para caminhar na areia sem me picar…”.
António Gomes Lameiro