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Leiria

“Leiria é dos distritos que mais tem exposto as mundividências dos portugueses que honram as suas terras além-fronteiras”

A cidade de Pombal recorda a comunidade emigrante com um monumento. FOTO: Luís Carvalhido

Daniel Bastos conhece como poucos a diáspora portuguesa. Dedica-se há muitos anos a estudar o tema e a conhecer os portugueses que deixaram o seu país e têm criado elos em todo o mundo.

O livro “Monumentos ao Emigrante – Uma Homenagem à História da Emigração Portuguesa” é o seu mais recente projeto e apresenta um levantamento em todos os distritos de Portugal, continental e ilhas, onde está representado, e é lembrado, o fenómeno migratório. São mais de uma centena de monumentos.

Só na região de Leiria (distrito de Leiria e concelho de Ourém), Daniel Bastos conseguiu identificar mais de uma dezena de estruturas. “O distrito de Leiria é um dos distritos que mais tem exposto no espaço público as mundividências dos portugueses, que honram e dignificam as suas terras e gentes além-fronteiras”, explica o autor, que desenvolveu o projeto através do trabalho que tem realizado “no campo da emigração portuguesa, nomeadamente a conceção de uma história concisa e ilustrada da diáspora”.

A cidade de Pombal; em Leiria, junto ao edifício da Moagem e nas localidades de Outeiro da Fonte (freguesia de Monte Real e Carvide) e Memória (freguesia de Colmeias e Memória); na Batalha e no Reguengo do Fetal; em Alqueidão da Serra, concelho de Porto de Mós; na Serra do Bouro e no centro urbano de Caldas da Rainha; e em Ferrel, concelho de Peniche, são alguns dos exemplos de monumentos que encontramos no distrito de Leiria.

FOTO: Luís Carvalhido
Monumento existente em Leiria é da autoria de Fernando Marques e surgiu por iniciativa da Association Franco-Portugaise Entreprendre, em parceria com a autarquia

No concelho de Ourém, pertencente ao distrito de Santarém, o historiador registou dois monumentos, um junto aos Paços do Concelho, e outro na freguesia de Espite.

“A existência de mais de uma dezena de Monumentos de Homenagem ao Emigrante nestas localidades é revelador de que a emigração tem marcas profundas no distrito de Leiria e no concelho de Ourém”, reconhece o historiador, que desenvolve boa parte do seu trabalho a prestar tributo aos milhões de emigrantes e lusodescendentes espalhados pelo mundo.

A homenagem está edificada em bustos, estátuas ou memoriais, em mármore, granito ou bronze, localizadas em zonas centrais das povoações ou cidades, que tornam o homem da terra, o emigrante, “em herói”, num legado “à memória coletiva e à história associada à emigração”.

“Nestas peças comemorativas, várias delas assinadas por artistas plásticos locais, mas também alguns de renome nacional e internacional, encontra-se muito presente um dos objetos mais simbólicos da mobilidade migratória do terceiro quartel do século XX, a ‘mala de cartão’, uma metáfora incontornável da emigração portuguesa, sobretudo para França. A maioria destes monumentos foram erigidos ao longo do último meio século pelo poder local democrático, sendo que alguns foram impulsionadas por comités de geminação, ou devem-se, a iniciativas individuais de (antigos) emigrantes”, explica.

O monumento existente na cidade de Ourém, explica, é uma exceção: trata-se de uma árvore de aço com uma eólica no seu topo. “É a primeira escultura autossustentável a nível nacional, sendo que a energia recolhida durante o dia permite ligar à noite 36 luzes, cada uma com o nome de um país com emigração lusa”, dá conta o investigador Daniel Bastos.

FOTO: Luís Carvalhido
Monumento ao Emigrante em Ourém trata-se de uma escultura autossustentável, em forma de árvore

“Em todas as localidades estes monumentos, ao reconhecerem a experiência emigratória, homenageiam os filhos da terra que além-fronteiras têm dado um contributo importante no desenvolvimento das suas povoações. Para a comunidade emigrante, esse reconhecimento manifesta e reaviva a profunda ligação que mantém às suas terras de origem”, diz, lembrando que o livro resulta de um trabalho em parceria com o fotógrafo Luís Carvalhido, e nos arquipélagos com a colaboração de Bernardo de Vasconcelos, professor auxiliar na Faculdade de Artes e Humanidades da Universidade da Madeira, e da Associação de Fotógrafos Amadores dos Açores.

Emigração continuará na ordem do dia em Portugal

“Todos os monumentos, dos mais singelos, situados nas pequenas aldeias do interior, aos mais grandiosos das aglomerações urbanas, constituem uma peça relevante do puzzle da história da emigração portuguesa. Dado se encontrarem inseridos na “história do presente”, relevaria a existência de várias estátuas e bustos que reconhecem ainda em vida, o contributo empreendedor e benemérito de emigrantes portugueses em prol das suas terras de origem”, justifica.

No caso de Leiria, o reconhecimento do contributo dos emigrantes no progresso do concelho está, desde a década de 1990, presente na praça do Emigrante, junto ao edifício da Moagem.

A estrutura, realizada pelo artista leiriense Fernando Marques (1934-2017), nasceu por iniciativa da Association Franco-Portugaise Entreprendre, em parceria com a autarquia. Na base do monumento lê-se “Com memória se escreve história”, em honra do comendador Armando Lopes, empresário natural de Ourém, com vários projetos de investimento na cidade de Leiria e um percurso profissional em França. Foi o primeiro português vivo a dar nome a uma rua em França.

Mas há mais exemplos, aponta o historiador: a estátua do comendador luso-californiano Manuel Eduardo Vieira, na ilha açoriana do Pico; o busto do arquiteto luso-americano João Negreiro Guedes, benemérito dos Bombeiros de Vidago; ou do empresário luso-francês João Pina, benemérito da região da Guarda.

Atualmente, Portugal é um país de imigrantes, registando nos últimos anos um aumento significativo de população estrangeira a viver e trabalhar no país, mas continua a ser também um país de emigrantes. Estima-se, segundo o “Atlas da Emigração Portuguesa”, que nos últimos 20 anos, saíram do país mais de 1,5 milhões de cidadãos.

“O estudo da emigração continuará a ser seguramente um tema que permanecerá na ordem do dia nas próximas gerações. Até porque, há cada vez mais a consciência da importância dos emigrantes, genuínos embaixadores do país, para a afirmação de Portugal no concerto das Nações. Não só pela tradicional importância das remessas que os emigrantes continuam a enviar regularmente para as suas famílias, mas também pelo inegável empreendedorismo, a riqueza do movimento associativo e a constante solidariedade das nossas comunidades em prol do torrão natal”, salienta Daniel Bastos, desejando, em julho e agosto, “tempo de regresso dos nossos emigrantes às suas terras de origem”, “umas boas férias em família e com os amigos, e um posterior bom regresso em segurança às pátrias de acolhimento”.

FOTO: Luís Carvalhido
Monumento existente em Alqueidão da Serra, concelho de Porto de Mós


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