Há uns tempos, numa entrevista, Peter Zumthor (arquiteto suíço), foi questionado sobre as suas impressões de Lisboa e respondeu “muito ruído… lembra a Peste na Idade Média, ao final de um tempo habituamo-nos…”.
O nível de desenvolvimento de uma sociedade, há quem o meça pelo nível de sinistralidade das nossas estradas, eu pelas mesmas razões meço-o pelo ruído. Pelas mesmas razões porque é precisamente porque não aprendemos a viver com outros que não temos a noção da importância de preservar este espaço público, comum. É precisamente por funcionarmos isolados e num tempo que parece pré-civilizacional, que não entendemos a necessidade de regras para que as nossas vidas se qualifiquem.
Somam-se os eventos e o que é passageiro passa a permanência pelo contínuo em que surgem. Assim de repente, somando feira de maio e seus concertos, feira medieval, Noite Amarela, Leiria Run (todas as quartas-feiras, mais uma especial), Extramuralhas, festival A Porta, Música em Leiria (excelentes festivais), jogos de futebol de escala nacional (quatro até à data), Leiria Sobre Rodas, festival de bandas filarmónicas, Andrea Bocelli… assim por alto já vamos em aproximadamente 150 dias (sem contar o antes e depois).
Cidadãos e cidadãs, todos devemos e podemos, mas as entidades públicas, em particular a Proteção Civil, como bastião da saúde pública, deverão ser capazes de dar o exemplo, têm que ser capazes de fazer cumprir regras, de forma a que vivermos todos juntos não seja uma inevitabilidade, mas sim uma opção pela diversidade, pela cumplicidade, pela partilha desta coisa fantástica que é a urbanidade.
Há ruído a mais na cidade, sendo um incómodo ambiental, mas também uma ameaça à saúde pública, com consequências ao nível cardiovascular, cognitivo, auditivo, distúrbio do sono e do stress.
Viver com os outros implica regras e o seu cumprimento.
Só com cidadãos informados e uma fiscalização dissuasora é possível conciliar a diversidade urbana.
A legislação da União Europeia sobre ruído é definida pela Diretiva Ruído Ambiente (DRA), que estabelece a base comum para a avaliação e gestão da poluição sonora em todos os Estados-Membros. Em Portugal, esta diretiva foi transposta para o ordenamento jurídico nacional através do Regulamento Geral do Ruído (RGR), que estabelece as regras para o ruído ambiente, ruído de vizinhança e ruído de atividades, com o objetivo de proteger a saúde humana e o bem-estar das populações – Decreto-Lei n.º 9/2007. Decreto que visa “a prevenção do ruído e o controlo da poluição sonora visando a salvaguarda da saúde humana e o bem-estar das populações constitui tarefa fundamental do Estado, nos termos da Constituição da República Portuguesa e da Lei de Bases do Ambiente”.
O inferno do ruído está no meio de nós.
“As autoridades têm uma atitude liberal em relação ao ruído”. Os mecanismos de controlo, nomeadamente legislativos, são vistos como empatas ao lucro.
A insensibilidade relativamente às regras de minimização do impacto destes eventos e seu ruído num ecossistema frágil – nos cidadãos, nos animais no geral – é muito reveladora da distância a que estamos, de vidas qualificadas e tranquilas. A privação do sono já nem em interrogatórios é permitida. O que acontece pós um fogo de artifício, ou como hoje pós horas e horas de inferno, é que ladram os cães, o bebé debaixo de minha casa está inconsolável, o som propaga-se pela casa adentro… e digamos que os decisores políticos não ouvem a cidade, será porque já estão surdos?
É que as pessoas e os animais ficam mesmo doentes. As pessoas acordam cansadas, se a situação se prolonga ao longo de meses, advêm consequências ao nível da memória ou problemas cognitivos, e se as pessoas continuarem a habitar na casa contaminada começam a surgir problemas gastrointestinais, problemas de pele ou do sistema respiratório. E, dependendo das fontes, também começam a manifestar-se sintomas cardiovasculares, nomeadamente taquicardias ou sensação de pressão no peito, assim como dores de cabeça.
Como dizia um cidadão indignado – a coisa só acaba com a chuva e confesso que já com dezenas de episódios similares e sem crença nas autoridades responsáveis vou ver como se faz a dança da chuva.
E de súbito apodera-se de mim a consciência da inevitabilidade deste acontecer e sobretudo da sua desnecessidade e da sua insanidade.
Helena Veludo
Silvestre disse:
Vocês Vivem a onde?
Certamente não é zona do Estádio!
Se falavam doutro modo,!
O festival organizado por uns ‘gajos’ que encontram o local perfeito para fazerem o que quisessem por haver uns “tipos” obcecados por entrar na “rota dos” concertos
Este festival não veio para cá, por acaso não havia mais ninguém disponível Para ter um barulho ensurdecedor durante vários Dias
A empresa pagou o aluguer e o resto?
Provavelmente foi o mesmo do ano anterior !
O Gonçalo tenha coragem dizer quanto a empresa pagou e quanto foi a restante despesa!