A japonesa Rie Nakajima e o belga Pierre Berthet começam hoje na aldeia das Fontes, em Leiria, a terceira residência artística de Fontes Sonoras, que dará origem a uma criação original inspirada no lugar.
Após terem estado no Lisboa Soa, festival que cruza arte sonora, ecologia e cultura auditiva, a dupla instala-se durante seis dias na pequena aldeia, conhecida por ser onde nasce o rio Lis e onde, desde 2022, acontece o festival Nascentes.
O programa Fontes Sonoras é, assumidamente, “um ‘afluente’ do projeto Nascentes”, explica à agência Lusa Guilherme Garrido, que assume a direção artística desta proposta que tem curadoria de Raquel Castro, do Lisboa Soa.
Após a presença de Andreas Trobollowitsch e Inês Tartaruga Água e Xavier Paes em meses anteriores deste ano, é agora vez de Rie Nakajima e o Pierre Berthet se instalarem nas Fontes para trabalharem uma proposta de arte sonora em diálogo com a comunidade local e o território natural da aldeia, potenciando novas formas de escuta e relação com o ambiente.
“O seu trabalho é muito DIY [“Do It Yourself”, ou “Faça você mesmo”], pequenos mecanismos que ativam vibrações, percussões, mecanismos muito simples que conseguem ativar de alguma forma o lugar natural onde estão”, explicou à agência Lusa Guilherme Garrido, antecipando uma semana de trabalho que está “totalmente em aberto”:
“O foco é sempre no som e na escuta ativa e atenta. Escutar isso é escutar a peça do artista, mas também, se calhar, outras coisas que não estava à espera de escutar”, como a própria respiração, os pássaros ou outros sons que por ali gravitam.
O convite feito por Fontes Sonoras é “um exercício de aprendizagem num mundo onde tanta gente fala tão alto, constantemente”, abrindo espaço (e tempo) para “estar atento a uma fonte sonora diferente. Tem de haver um silêncio maior para se conseguir ouvir uma coisa que é tão mínima ou frágil”, salientou.
Será o caso do trabalho a apresentar por Nakajima e o Berthet, “duas figuras de referência internacional na cena da arte sonora contemporânea” que, nota em comunicado a Omnichord, responsável pela organização, “exploram o som através de objetos que vibram, ressoam e interagem com o espaço e o público de maneiras inesperadas”.
“As suas criações, ao mesmo tempo poéticas e experimentais, revelam a presença de forças invisíveis que nos rodeiam”, acrescenta a informação.
Guilherme Garrido lembra que Fontes Sonoras surge com uma escala bem menor do que o Nascentes, que leva dezenas de artistas e milhares de visitantes a esta aldeia do concelho de Leiria.
“Vem também deste lugar de olhar para esta paisagem natural, para as pessoas, para este ecossistema”, mas com “uma escala muito, muito menor”.
Por estes dias, quem habita a aldeia encontra “artistas que falam línguas diferentes, que se comportam de formas diferentes, que trazem outro tipo de instrumentos”.
À procura de “diversas formas de escutar, de ativar o som que já existe”, a residência artística é “um lugar de abertura, de experiência” que se desenvolve na aldeia que se revela “um local de possibilidades e de inspiração”.
Fontes Sonoras é também um novo programa cujo primeiro ano se fecha agora e que configura para Leiria “uma nova manifestação artística que se pode estranhar, entranhar e criar uma sensação de ‘isto também é possível, isto também existe’. Esse lugar de liberdade é sempre o mais interessante”, conclui o diretor artístico.
A intervenção criada por Rie Nakajima e Pierre Berthet é apresentada em sessão pública no dia 26 de outubro.