Assinar
Cultura

Two Rooms. Fotografia e pintura num desafio em forma de exposição

Projeto de José Luís Jorge e Horácio Borralho pode ser visitado no mimo até 23 de maio: durante a semana no horário normal e ao fim de semana até às 13 horas.

A Sala dos Arcos quase se divide em duas para “Two rooms”, um desafio em forma de exposição de José Luís Jorge e Horácio Borralho: num lado estão fotografias do primeiro, captadas em museus da Europa; na parede contrária, pinturas que o segundo fez a partir dessas imagens.

É como um reflexo de um reflexo: José Luís Jorge registou pessoas a observar obras de arte (“de Istambul a Cardiff”) e esse registo deu lugar a uma dupla obra de arte, em fotografia e pintura, que se pode apreciar no mimo – Museu da Imagem em Movimento.

“Conhecemo-nos há 25 anos e, em conversa, chegámos à conclusão que ambos desenvolvíamos o mesmo projeto: ele na pintura, a partir de imagens na internet, eu na fotografia”, explicou sábado, na inauguração, José Luís Jorge.

Assim, lançaram-se num projeto original, que é quase um “descubra as diferenças” em forma de exposição: um exercício que nos leva a deambular pela sala do museu de Leiria à procura das correspondências.

“Parecem um bocado sucedâneos um do outro, mas acho que cada um tem o seu lugar”, afirmou Horácio Borralho. O artista, de Fátima, salienta que as suas interpretações das imagens do fotógrafo de Leiria por vezes apresentam o que chama de “erros”, encarados, no entanto, como “coisas boas nas artes plásticas”.

Tudo começou nas viagens que José Luís costuma fazer para as reportagens que tem publicado em revistas da especialidade ao longo das últimas décadas.

De forma casual, fotografou pessoas em museus e galerias. “Fiz uma vez, duas, três e passado algum tempo é que passei a interiorizar esse exercício e a achar que era um motivo interessante”. Não é original, avisa. Entretanto descobriu que há vários fotógrafos a fazer o mesmo, “nomeadamente o alemão Thomas Struth, que o faz muitíssimo bem”. 

Ao fotógrafo de Leiria interessa “a maneira como as pessoas se debruçam sobre as obras de arte”, o que permite frequentemente “imagens muito interessantes”. Por um lado surgem simetrias desafiantes, por outro há expressões faciais que resultam da observação. “Interessa-me a relação entre a obra de arte e o espectador”. 

Para conseguir as imagens, José Luís Jorge adota três atitudes: há pessoas que não chegam a saber que foram fotografadas; outras há a quem pediu autorização; e há ainda aquelas com quem firma “um acordo tácito”: “Um olhar é suficiente: aproximo-me, a pessoa vê que tenho um equipamento fotográfico e não mostra desagrado nem faz má cara”.

Esta última é a abordagem preferida. “No final até acontece agradecer e a pessoa sorri”.

A partir de um conjunto dessas imagens de gente apreciadora de arte, Horácio Borralho partiu para uma interpretação através da pintura.

“Pela primeira vez estou a mostrar as fontes que dão origem aos quadros. Há sempre a tendência de fazer comparações e ver como ficou”, frisa, acrescentando José Luís Jorge que o objetivo foi mesmo esse:

“Um dos nossos propósitos é que as pessoas olhassem para uma coisa, olhassem para a outra e vissem as diferenças e semelhanças”.

Para o pintor, a questão dos processos dos dois suportes, contida em “Two rooms”, é essencial:

“A fotografia e a pintura têm tempos diferentes: quando a fotografia não resulta, pode-se voltar noutro dia; na pintura quando as coisas não funcionam tão bem, é mais complicado começar do início ou reformular o trabalho”, afirma, lembrando que, por mais parecido que seja o resultado final, ele precisou de “fazer as cores” ou “decidir onde cortar para a imagem funcionar melhor”. “Há sempre uma reinterpretação”, conclui.

Horácio Borralho salienta também que “Two rooms” pode convidar a várias leituras. “Uma é sobre a importância do lugar do espectador na produção plástica. Isso talvez seja o mais importante: um artista nunca trabalha para a gaveta ou só para si: trabalha para mostrar, para se expor – é um convite às pessoas a terem as suas próprias narrativas em relação ao que veem”. 

No discurso da exposição, há dois hiatos: dois quadros de Horácio Borralho sem correspondência nas fotografias de José Luís Jorge. “Um foi feito a partir de uma fotografia de uma família, em que há pinturas nas paredes. É a família de um artista plástico”, explica o pintor. Outro é “Photoshop is boring”, um remoque em forma de pintura. Ambos concordaram integrar estas obras na proposta apresentada.

“Two rooms” pode ser visitada no mimo, em Leiria, até 23 de maio: durante a semana no horário normal e ao fim de semana até às 13 horas.

Deixar um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Artigos relacionados

Subscreva!

Newsletters RL

Saber mais

Ao subscrever está a indicar que leu e compreendeu a nossa Política de Privacidade e Termos de uso.

Artigos de opinião relacionados