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Sociedade

Associações ambientalistas querem Pinhal de Leiria zona livre de caça

Confederação Portuguesa de Associações de Defesa do Ambiente assume “apreensão e preocupação” face ao conteúdo do Plano de Gestão Florestal atualmente em consulta pública.

"Não faz sentido nenhum" permitir caça na Mata Nacional de Leiria, considera a confederação de associações de defesa do ambiente

A Confederação Portuguesa de Associações de Defesa do Ambiente (CPADA) denuncia o facto de “a quase totalidade da área” da Mata Nacional de Leiria estar afeta à caça no Plano de Gestão Florestal que está em consulta pública, sugerindo que toda a área seja transformada em Zona de Não Caça.

A representante das associações de defesa do ambiente considera que “nos dias de hoje não faz sentido nenhum” permitir caça no Pinhal de Leiria, não só porque “aumenta o risco de acidentes que podem mesmo ser fatais” a quem utiliza a mata mas, também, pelo facto de a presença de fauna selvagem “não causar qualquer impacte negativo na gestão deste espaço florestal”.

A CPADA nota que o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) prevê no plano a possibilidade de abate sobretudo de aves, como “pombo trocaz, tordos, estorninhos, narcejas, tarambolas, galinhas de água e diversas espécies de patos invernantes”.

“Nos dias de hoje isto não faz sentido nenhum, pois o valor turístico e ecológico destas belas aves ultrapassa largamente o benefício obtido com o seu abate na atividade cinegética”, afirma a confederação em comunicado, propondo a transformação de “todo o perímetro da Mata Nacional de Leiria como Zona de Não Caça, de modo a promover a conservação da vida selvagem e outras atividades relacionadas com a usufruição da natureza (turismo de natureza, birdwatching, caminhadas, etc)”.

A CPADA critica ainda as funções definidas para a Mata Nacional de Leiria no Plano de Gestão Florestal do Pinhal de Leiria, nomeadamente que 45,2% da área, “quase cinco mil hectares”, fiquem “destinados à produção de madeira”. Pelo contrário, estranha que “apenas 16,7% da área seja destinada a Áreas de Regulação (purificação do ar, filtragem da água, prevenção da erosão, regulação do clima)” e uma “baixíssima área [fique] destinada a ‘Recreio e Valorização da Paisagem’, uns míseros 0,2 % da área (27 hectares)”.

“Face aos problemas urgentes das Alterações Climáticas e da Perda da Biodiversidade não é aceitável que o Estado Português atue como um qualquer proprietário florestal privado, dando prevalência ao objetivo de produção de madeira, quando já não faz sentido que o estado interfira no mercado da produção de madeira para fins industriais como o fez durante o século XX”, criticam as associações ambientalistas.

Quase 90% da área da Mata de Leiria ficará ocupada com pinheiro bravo até 2038, segundo o plano em análise, uma previsão que é “o oposto da floresta diversas que as boas práticas do ordenamento florestal aconselham”.

Ou seja, “caminhamos de novo para uma massiva monocultura de pinheiro bravo, repetindo os erros do passado que levaram à destruição quase total pelo fogo da Mata Nacional de Leiria”, lê-se no comunicado da confederação.

Por isso, a CPADA assume “apreensão e preocupação” com o futuro da mata, lamenta “a insignificância atribuída a outras espécies – apenas 3% para o pinheiro manso e 1 a 2% para os outros estratos previstos” – e lembra que o Estado deve “ser o primeiro a pugnar pela conservação das matas públicas, através da manutenção daquelas que são naturais e da renaturalização das demais matas públicas”

Em alternativa ao Plano de Gestão Florestal proposto, as associações ambientalistas sugerem que a Mata Nacional de Leiria “seja dedicada à proteção e conservação da natureza e integrada no Roteiro para a Neutralidade Carbónica”.

Pede ainda que as áreas destinadas à produção de madeira sejam repensadas para terem como objetivo principal o “sequestro de carbono, proteção da biodiversidade e proteção do solo e da água”.

Relativamente às espécies a implementar, a CPADA propõe que se faça “diminuir a predominância quase absoluta do pinheiro bravo”, aumentando substancialmente as áreas destinadas ao pinheiro manso, sobreiro e outras folhosas, como medronheiro e carvalhos.

“A função produção deverá ser apenas e só uma mera consequência da gestão para as funções de conservação e de proteção”, sublinham os ambientalistas.

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