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“Sem o jornalismo viveríamos em profunda escuridão”

Patrícia Duarte é diretora adjunta do jornal Região de Leiria

imagem de rosto de patrícia duarte num evento com logotipo do região de leiria em fundo

Do seu ponto de vista, que relevância mantém a imprensa no contexto atual, sendo que estão disseminadas plataformas diversas de comunicação?

Por existirem tantas plataformas de comunicação, através das quais se propaga todo o tipo de informações, a imprensa tornou-se absolutamente indispensável. É o jornalismo que permite distinguir o que é verdadeiro do que é falso, o que é notícia do que é ruído.

Conseguimos imaginar um dia que seja das nossas vidas sem jornalismo? Antever o caos que seria? Ou vamos ser ingénuos e pensar que conseguiríamos sobreviver com as publicações irrelevantes, imprecisas, enviesadas, confusas e mentirosas que vão sendo feitas na internet?

A imprensa é fundamental. Sem ela os cidadãos não conseguiriam lidar com a complexidade daquilo que os rodeia. Sentir-se-iam perdidos, ansiosos, incapazes de orientarem as suas vidas ou de se protegerem em relação a todo o tipo de abusos, incluindo os de poder. Não seriam livres para decidir.

A informação fidedigna satisfaz uma necessidade básica humana. Ajuda a interpretar a realidade, reduz a incerteza, dá sentido ao mundo em que nos movemos. É através dela que identificamos ameaças e oportunidades, amigos e inimigos.

Sem o jornalismo viveríamos em profunda escuridão.

Como avalia a dinâmica da imprensa local e regional e a capacidade de assegurar as atividades informativa e de escrutínio, nomeadamente no que se refere a esta região de Leiria?

 Apenas poderei falar pelo Região de Leiria. Face aos recursos e meios de que dispomos, fazemos muito e, nesse sentido, a avaliação é positiva. Os leitores não imaginam as horas de trabalho, o esforço, as angústias, os dissabores que estão por detrás de cada artigo que é publicado, sobretudo os de maior dimensão ou complexidade. Também não imaginam que, com o digital, o trabalho das redações triplicou ou quadruplicou sem que o número de profissionais tivesse acompanhado esse aumento. E que os assuntos são mais complexos, a informação está hoje mais dispersa e se tornou mais difícil de confirmar.

Não quero cair no discurso da vítima, por isso o que digo é que somos permanentemente críticos em relação ao nosso trabalho e insatisfeitos por natureza. Isso, por si só, faz-nos ambicionar e procurar, permanentemente, meios para fazer mais e melhor no sentido de cumprirmos a nossa missão enquanto jornal.

Acredita que a imprensa tem condições para cumprir a sua função com a consolidação do paradigma digital?

Sim, acredito. Mas sem uma política nacional de defesa do jornalismo, consegui-lo-á a muito custo. As pessoas não abandonaram as notícias, abandonaram os formatos e suportes tradicionais e a forma mais textual de apresentar os assuntos. Acompanhar essa mudança é o que hoje está a ser exigido às redações, com a adoção de novas tecnologias e a integração de profissionais com competências que permitam fazer chegar as notícias de forma mais célere, cómoda, inteligível e atrativa aos olhos do leitor. Isso requer investimentos avultadíssimos e uma mudança profunda nas rotinas e nos processos de trabalho das organizações jornalísticas. Se o Estado não intervier no sentido de defender o jornalismo – não a comunicação social -, se os gigantes Google e Facebook não pagarem pelos artigos jornalísticos, se a sociedade não se mobilizar no sentido de defender a imprensa, espera-nos um longo calvário. Será um teste à nossa ética e um enorme desafio à nossa capacidade de adaptação, lucidez e coragem para tomar decisões difíceis. Alguns hão de conseguir. Muitos ficarão pelo caminho ou dedicar-se-ão a atividades que não podem ser apelidadas de jornalismo. O deserto de notícias será ainda maior.

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