A que soa “O crime do padre Amaro”? Este domingo, dia 9 (16h, 5 euros, M6) vamos descobrir no Teatro José Lúcio da Silva. É a mais recente aventura da Filarmónica das Cortes, que convoca o coro e convida dois cantores para levar a palco a obra de Eça de Queirós.
Nos últimos meses, Ricardo Monteiro mergulhou no romance que tem Leiria como pano de fundo. O maestro adaptou a obra a espetáculo de cariz operático, “mas mais humilde”: faltam-lhe cenários, figurinos e um elenco que represente os protagonistas para lá de Amaro e Amélia. Os personagens centrais ganham vida por Rita Gama (que é de Pombal) e João Pereira, soprano e tenor, estudantes de canto na ESMAE, no Porto. E a música?
“Uma parte é original minha, mas a grande parte é de [Anton] Bruckner e [Gabriel] Fauré”, explica Ricardo Monteiro, que fez arranjos para banda, coro – assume o papel de narrador – e dois solistas, além de ter reescrito o texto. Um exercício complicado: o romance queirosiano é rico em pormenores e detalhes.
“Torna-se difícil condensar numa hora de música. Se fossemos fiéis a tudo, não bastavam cinco horas de concerto”. O maestro chegou a uma adaptação com cinco andamentos, pensados como “uma suite ou sinfonia”.
Ao todo, além dos dois cantores, participam no espetáculo de domingo 65 elementos: 33 filarmónicos e 32 vozes no coro. Para os músicos, foi “bastante desafiante”: “Estamos a criar algo novo, uma obra inédita, a partir da minha interpretação de ‘O crime do padre Amaro’”.
Mais do que isso, habituada a ser protagonista, a banda tem aqui o papel de acompanhamento das vozes. “Inicialmente eles ficaram muito entusiasmados, mas nos primeiros ensaios estranharam, também porque faltava a voz”.
Em palco, a intenção é homenagear “O crime do padre Amaro”, “uma história incrível e querida de todos os leirienses”. Também se pretende fazer refletir: “Apesar de ser escrito e contado no século XIX, o romance está bastante atual. É intemporal”.
E, salienta Ricardo Monteiro, remete para “a hipocrisia que vemos [hoje] na sociedade”, convidando “a pensar sobre os nossos atos e sobre a nossa consciência”.