À procura de melhores condições financeiras e de oportunidades para evoluir profissionalmente, Rafael Santo saiu de Portugal em 2013. Tinha estudado design de equipamento e esperava afirmar-se na área das artes. Mas a vida tomou outro rumo. Partiu para Londres, “porque ouvimos em Portugal que é o lugar para estar”. Mas não foi fácil.
Sem encontrar colocação, aceitou trabalhar na copa de um restaurante. “Mas rapidamente viram que eu dava para mais, o meu inglês era bom”. Passou para a sala e saltou entre restaurantes de Plymouth, York, Leeds, até ir parar a Manchester.
Convidado para um novo restaurante na cidade, Rafael Santo sentiu aí o clique: afinal, gostava mesmo de hotelaria. Pediu para se dedicar ao bar e criar cocktails. “Mas o que sobressaiu bastante foram as minhas vendas nos vinhos”, recorda. Propuseram pagar-lhe estudos no Wine & Spirited Education Trust e entrou como aprendiz entre nove sommeliers (ou escanções). “Foi uma escola brutal!”.
Ao fim de dois anos no 20 Stories, nova proposta levou-o até ao restaurante do Stock Exchange Hotel, entrando como sommelier assistente. É um dos hotéis mais conhecidos de Manchester, procurado por celebridades – “e dois dos donos são os ex-jogadores do Manchester United, Gary Neville e Ryan Giggs”.
Veio a pandemia e voltou a Portugal. Por cá, nada do seu agrado surgiu e regressou a Inglaterra. “Aí tive um telefonema interessante do escritório do Gordon Ramsey para abrir um dos restaurantes dele”. E voltou a Manchester, para trabalhar no Lucky Cat, restaurante de cozinha asiática e sushi. Ao fim de um ano, contudo, o antigo patrão ligou-lhe: iam reabrir o restaurante do hotel. E Rafael voltou para o Stock Exchange Hotel, onde, aos 38 anos, é head sommelier, ao lado do chef Niall Keating, detentor de duas estrelas Michelin.
Para o leiriense, ser sommelier “é ser o tradutor entre produtor e cliente”, nutrindo “a arte de criar ligações”, com pontes “entre sabores, pessoas e memórias”. Fascina-o escolher um vinho certo que transforma uma refeição ou que emociona um cliente.
“O vinho é movimento, descoberta e partilha – e é essa energia que me inspira todos os dias”, resume. Entre os vinhos do “seu” Stock Exchange Hotel, os portugueses são muito apreciados. Há procura espontânea entre clientes de diferentes nacionalidades, “reflexo claro do prestígio crescente que Portugal tem conquistado no mundo do vinho”.
Para lá dos vinhos, Manchester revela-se “um pouco como Leiria”. “Sinto-me aqui como se fosse a minha segunda casa”, admite, notando o “desenvolvimento em grande” desta cidade moderna, “mas com alma industrial e criativa”.
Sente-se bem em Manchester, mas volta a Leiria de dois em dois meses, “para matar saudades, recarregar energias e sentir o quentinho de casa”, com amigos, família, comida e clima. E para descobrir novos vinhos, claro. O regresso está entre os seus objetivos. “Dentro do próximo ano, se tudo correr bem”, revela, gostava de encontrar “a oportunidade certa” para estabelecer “um modelo híbrido que me permita prestar também em Portugal os serviços que desenvolvo aqui”.
Manchester, Inglaterra
Fundação: Século I d.C.
Habitantes: 568.996 habitantes
Área: 116 km2
O melhor por lá
Crescimento e reconhecimento profissional
O pior por lá
Sem dúvida o clima de quando chove e é tocado a vento ao mesmo tempo
O mais surpreendente
Diversidade do mundo