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Atletismo

Nazareno Luís Soares correu a maratona por França

Venceu as maratonas de Lille e de Paris, bateu o recorde de França, com 2h10m03s, marca que durou nove anos e valeu o passaporte para os Jogos Olímpicos de Barcelona 92

Luís Soares tem uma história e tanto. De jogador de hóquei em patins na Nazaré chegou a atleta olímpico por França e ainda ajudou o país adoptivo a salvar pessoas na República do Congo!

Aos 48 anos, recorda com gosto uma carreira surpreendente, que começou por brincadeira depois de um jogo de futebol. “O Abílio Figueira [hoje técnico de natação do Bairro dos Anjos, em Leiria] desafiou-me para um footing aqui na Nazaré”, a terra natal. Ao fim de dez quilómetros Luís mantinha a pedalada e impressionou o treinador. “Ele disse-me: ‘Deixa o hóquei em patins – jogava no Líderes, que já não existe – e vai para o atletismo. Tens futuro’”.

Tinha 17 anos e levou o conselho a sério. Começou a treinar com Abílio e, em três meses, já ganhava aos seniores. Somou títulos, chegou à seleção júnior portuguesa, foi a mundiais. “Prova após prova, via-se a evolução”. Numa Meia Maratona da Nazaré, ainda júnior, impressionou um francês. “Ficou a mais de um minuto atrás de mim e convidou-me para ir lá fazer um estágio de três meses”. Foi e ficou convencido. “Aqui só tinha taças; lá havia cheques”.

Em Portugal ainda perguntou se o podiam apoiar. “O Moniz Pereira, da seleção, disse que tinha de esperar um anito. Mas eu tinha de comer”. Foi para França em 1984, por 1.500 euros/mês. “Era um balúrdio e ainda ganhava o dinheiro das provas!”. Aos 21 anos profissionalizou-se. “Treinava sozinho, com as bases que o Abílio Figueira me deu”. Ninguém o segurava: “Quando apareciam quenianos ou marroquinos, ‘lerpavam’ todos! [risos]”.

Aquela cama…
Casou em França e naturalizou-se. “Foi uma grande história de amor entre mim e França. Sentia-me francês lá e português cá”. Venceu as maratonas de Lille e de Paris, bateu o recorde de França, com 2h10m03s, marca que durou nove anos e valeu o passaporte para os Jogos Olímpicos de Barcelona 92.

Lá foi 45º – uma enorme desilusão. “Estava muitíssimo em forma, tinha o terceiro melhor tempo entre os participantes…”. Mas as camas do Centro Olímpico eram de arame e Luís Soares ignorou o risco. “Vi os meus colegas dormir no chão, mas dormi lá. Tramei-me. Levantei-me todo ‘partido’ e corri sempre com dores”.

A ciática tramou-o e continuou a afetar-lhe a carreira, prejudicada ainda pelo fim dos apoios ao desporto em França. Em 1996, o atleta da Nazaré teve de fazer pela vida. “A Legião Estrangeira ofereceu-me salário. O projeto era ser campeões do exército. Mas avisaram-me que teria de fazer a instrução como qualquer militar”. Gostou.

“Fazia 300 flexões, era bom atirador e corria. Aquilo passou-se facilmente”. Esteve em ambientes duros, como a Guiana Francesa ou o Djibouti, e participou numa operação de salvamento na República do Congo. Ainda voltou à seleção de França, aos 36 anos, sem resultados mas com um balanço global positivo. “É uma grande aventura, uma grande história. Recordar isto tudo deixou-me 30 anos mais novo [risos]”.

Hoje é educador num colégio em França. Depois de sete anos sem correr, voltou à estrada, criou uma associação que junta amantes do atletismo e alimenta um sonho: bater o recorde mundial da maratona para atletas de 50 anos, 2h19m. “Porque não? Ainda há muita velocidade e força nas pernas, mas o desafio vai ser a cabeça. Tenho dois anos para esse projeto!”.

Manuel Leiria
manuel.leiria@regiaodeleiria.pt

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