Assinar

Corta-relvas: TDT procura-se

Eu, que sou eu, avanço com uma pista para o deslindar do caso: a TDT anda nas nuvens. Terrestre, terrestre só nós, os Totós de Totós, que pagamos todos os meses a taxa de audiovisual na factura de electricidade.

Joao-pombeiro
João Pombeiro, Jornalista e editor-executivo da revista LER pombeiro@gmail.com

Olá, caro leitor, por aqui outra vez? [Passam alguns segundos de uma conversa tipicamente aborrecida] Ainda bem que me faz essa pergunta. Não, não é a mesma coisa. O DDT (Dicloro-Difenil-Tricloroetano) é um pesticida clássico, a TDT (Televisão Digital Terrestre) é uma coisa moderna. No entanto, ambos são muito difíceis de encontrar. [Mais alguns segundos] Então, até à próxima, e cumprimentos à família.

Há um mistério de ano e meio no distrito de Leiria: onde pára a TDT? Ao que parece, nem o Wally lhe faz concorrência. Mistério sem fim à vista, mas com início em Abril de 2012, mês em que o velho sinal analógico foi desligado para abrirmos alas às maravilhas do digital.

O REGIÃO DE LEIRIA, que não é detective, mas faz muito e bom jornalismo, falou com algumas das 420 piedosas testemunhas do distrito que reclamaram junto da Autoridade Nacional de Comunicações (num total nacional de 8100, só em 2012). Eduardo (Pedrógão), técnico de telecomunicações, diz que “muitas vezes” o aparelho de TV serve “para enfeitar a parede”; Dulce Santos (também do Pedrógão) tenta agarrar-se ao esmifrado sinal – “há dias em que não tenho televisão” – e ainda larga pilim por isso – “só na antena gastei 120 euros, mais 40 no receptor e paguei mão-de-obra”.

De Pedrógão a Porto de Mós são 50 quilómetros de distância e de dessintonia. Luís Cordeiro, presidente da junta de São Bento, calcula que metade da população esteja out, sem poder avançar para a solução de recurso: “Os mais idosos não podem pagar o serviço de televisão, porque as reformas mal chegam para viver”. O mapa do apagão estende-se a Alqueidão da Serra, Pelariga (Pombal), Alburitel (Ourém), Monte Redondo, Carreira, Bidoeira, Colmeias. “Há zonas de sombra, sem sinal”, explica Ventura Tomaz, presidente da junta de Coimbrão.

Alguém falou em “interesses” envolvidos? Eu não fui. “Esta situação só cria espaço para as suspeições sobre se existiram outros interesses”, palavra de Raul Castro, presidente da Câmara de Leiria. Entretanto, DECO entrou em jogo (e bem) e pede em tribunal uma indemnização de 42 milhões de euros à ANACOM.

Eu, que sou eu, avanço com uma pista para o deslindar do caso: a TDT anda nas nuvens. Terrestre, terrestre só nós, os Totós de Totós, que pagamos todos os meses a taxa de audiovisual na factura de electricidade.

Escrito de acordo com a antiga ortografia

(texto publicado na edição de 7 de novembro de 2013)