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“Não ter pavilhão penaliza Leiria, não a candidatura a Cidade Europeia do Desporto 2022”

A candidatura de Leiria a Cidade Europeia do Desporto 2022 está na reta final e enquanto a pandemia não permite o regresso das competições, autarquia e clubes apostam na requalificação dos equipamentos para afinar pontaria. Vão surgir novos pavilhões no concelho, diz Carlos Palheira, vereador do desporto.

Região de Leiria – Este ano os clubes não vão estar fisicamente na Festa do Desporto e vivem momentos de incerteza perante a situação de pandemia que nos toca a todos. Do que tem acompanhado no terreno, há clubes e equipas em risco de acabar se as competições não regressarem a curto prazo?
Carlos Palheira – Os clubes não são muito diferentes da sociedade, todos têm as mesmas dificuldades. Todos nós sabemos que isto traz novos desafios, novas dificuldades e os clubes estão a passar por essa fase muito complicada.
Isto é quase como uma tempestade perfeita: os miúdos não podem fazer exercício, portanto os clubes não cumprem a sua função do ponto de vista da formação desportiva, e isso não gera receitas. São os bares dos próprios clubes e associações que estão fechados, são as festas de verão que não se fizeram e que também capitalizam os clubes com o orçamento do ano.
Confiamos no associativismo e temos tentado apoiar na medida que nos é possível e vamos continuar a apoiar.

De que forma?
Em março, fizemos uma antecipação da receita sobre um valor que lhes era devido, 60% em sede de regulamento Pró-Leiria. Fizemos também um programa de apoio extraordinário ao associativismo, para fazer face às despesas correntes das próprias instituições.

Os próximos meses vão ser complicados?
Avizinham-se tempos de desafios, não só para o desporto. É inegável o valor que o desporto tem, nos processos de socialização, de construção do próprio indivíduo, na saúde.
Acho que [as entidades nacionais] podiam ter ido mais longe na definição do estado do desporto. Em Leiria, nunca fechámos o Centro Nacional de Lançamentos. Foi a única a nível nacional que nunca fechou para os atletas olímpicos e de programa olímpico.
Abrimos muito cedo as piscinas para atletas da seleção e UAARE. Conseguimos autorização para os trampolins. Fomos os primeiros a dar indicação para abrir os campos de futebol para o treino de condição física.
Fizemos as esplanadas do desporto.
Abrimos, com a Resolução nº 55, o treino para todos, mas depois veio a Orientação nº36 da Direção-Geral de Saúde , e aí, sou sincero, estava a contar com uma maior abertura relativamente ao treino.
Posso aceitar que a competição ficasse, por agora, de lado, mas que o treino competitivo fosse permitido.

É isso que também está a assustar os clubes? Nesta altura, a maior parte estaria a treinar e com as provas calendarizadas…
Os tempos também não estão a dar-nos os melhores indicadores em relação ao futuro.

Há um valor que temos sempre que preservar, que é o valor da saúde da nossa comunidade e dele não podemos abdicar.

É um quadro de indefinição grande, não sabemos quando é que vamos começar a competição. É um tempo de incerteza para os miúdos que gostam de treinar, não só do ponto de vista físico, mas também pelo treino competitivo, jogar uns contra os outros. Que é o que defendo: que pudessem ter os treinos nos clubes, em grupo controlado e sem jogo.

Carlos Palheira está confiante na eleição de Leiria para Cidade Europeia do Desporto Fotos e vídeo: Joaquim Dâmaso

Esta instabilidade pode afetar a candidatura a Cidade Europeia do Desporto (CED) 2022?
Não, pelo contrário, acho que pode reforçar. Se acreditamos que o desporto é algo que contribui para a construção de uma sociedade cada vez melhor, agora faz mais sentido. Se vamos passar por uma fase de grande turbulência, a candidatura pode ser mais um sinal de bonança para todos.

A candidatura está na reta final. Quais as suas perspectivas?
Estamos na fase final de candidatura e pensamos ter tudo concluído até à primeira semana de novembro. Tenho enormes e boas expectativas.
Leiria merece o título da nomeação para CED por tudo aquilo que temos, pelo associativismo, pela disponibilidade das pessoas em participarem no desporto competitivo mas também informal. 57% da nossa população é ativa. Isto é uma medida real. É sinal que merecemos: pelos 68 clubes, pelas 38 modalidades, pelos 187 clubes que têm nos seus estatutos desporto. A cidade merece.

Não ter um pavilhão na cidade pode prejudicar?
Não ter um pavilhão penaliza essencialmente a cidade, não a candidatura. Temos 354 instalações desportivas. Vamos agora avançar com a construção de um pavilhão, em articulação com o Clube Atlético de Regueira de Pontes.
Está em fase de conclusão o pavilhão inclusivo das Cortes.
Vai ser feito o novo pavilhão do Centro Escolar dos Marrazes. Um pavilhão fechado, o maior do município, com cerca de 800 a 1000 lugares, será um pavilhão de grande conforto e qualidade.

Se nos falta uma grande sala de receção? Sim, isso é unânime. É incontornável que faz falta para todo o conjunto da cidade.

E vão surgir novos equipamentos desportivos?
Estamos numa grande aposta de articulação com os clubes. Apoiámos a remodelação e melhoria das instalações do GD Santo Amaro. O AC Sismaria vai também reconverter o seu complexo na zona da Gândara.
Já fizemos a conclusão do campo de futebol 11 na Caranguejeira. Vai surgir um sintético na Bidoeira. Estamos a ultimar os projetos dos campos do Alegre e Unido e do Motor Clube.
Quanto melhor forem as condições, melhor será a qualidade de todo o processo de treino.

A pandemia deu a oportunidade aos clubes para se dedicarem a este tipo de projetos?
Se estamos parados em competição e treino, este poderá ser um tempo ótimo para melhorar e intervir nas instalações.
A autarquia vai substituir dois pisos de pavilhões municipais: na Carreira e na Correia Mateus.
Todos os pavilhões têm iluminação LED e vamos fazer uma intervenção em termos de eficiência energética. Vamos mudar todo o pavilhão da Maceira – estrutura, piso, balneários – é o único que tem teto de fibrocimento. Já intervimos profundamente no estádio e nas piscinas.

Que tipo de eventos pode receber a cidade em 2022? Jogos da seleção nacional de futebol? Finais nacionais de andebol?
O grande evento não vai ser o nosso foco, apesar de querermos alguns eventos em Leiria.
O foco será o que já temos, e vamos dar maior visibilidade a quem nos merece o maior respeito, neste caso, todo o associativismo, mas também o desporto informal, e transformar toda esta candidatura e todo o município numa festa.
Teremos que falar com federações para perceber a disponibilidade em fazer cá eventos, como por exemplo, de seleções. Mas temos 70 clubes, se cada um organizar dois eventos no âmbito da CED, são 140 eventos, ou seja, três por fim de semana.
Vai ser uma enorme festa, um programa rico, que terá o foco muito no associativismo local. Eles vão ser chamados a fazer parte deste projeto.

A candidatura revela que Leiria tem níveis de atividade física “ímpares na realidade nacional”. O que é que os leirienses têm a ganhar com a CED?
Quanto maior for o número de pessoas que pratica desporto ou atividade física, maiores são os ganhos para a comunidade.
Se ganharmos o título – ainda falta isso -, temos imenso a ganhar.
Vamos ser uma comunidade mais saudável, iremos continuar a trabalhar neste ímpeto, para que cada vez mais pessoas façam desporto e atividade física.
E a comunidade vai ganhar também muito com a requalificação dos espaços que está a ser feita. Estamos a intervir muito.
A cidade vai ganhar muito, não tenho dúvidas quanto a isso.