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A preto e branco: Errância e liberdade

A condição humana parece ser, cada vez mais, a de errância pela vida. A capacidade de auto-determinação e construção da própria história (individual ou coletiva) a isso obriga.

Elsa Rodrigues, professora elsardrgs@gmail.pt

A condição humana parece ser, cada vez mais, a de errância pela vida. A capacidade de auto-determinação e construção da própria história (individual ou coletiva) a isso obriga.

Erramos (andamos sem rumo e, com frequência, enganamo-nos e perdemo-nos) porque não vivemos uma vida de sentido único, sem cruzamentos ou bifurcações. O vago sentimento de perdição que habita em nós e se agudiza a cada escolha ou arrependimento é o preço que pagamos pelo exercício de um dos bens mais valiosos do mundo ocidental moderno: a liberdade. Mas o pensamento moderno, confiante na clarividência da razão humana, não antecipou as dificuldades que poderiam surgir em exercer a liberdade no mundo pós-moderno, que diluiu certezas, esbateu fronteiras mentais e físicas e alimentou a crença de que poderemos ser tudo e ter todas as coisas, de que todos os caminhos são possíveis e de que a os limites dependem apenas da nossa (in)capacidade de gerir as oportunidades que, real ou virtualmente, nos são oferecidas. E, porque nos foi permitido construir caminhos para além daqueles que a origem social, a cultura, a biologia ou qualquer transcendência nos impunham, deixámos de ter destino. Sem rumo definido resta-nos, erraticamente, ir escolhendo os percursos que nos permitam a melhor viagem, com a confiança de que muitas vezes nos perdemos para depois nos podermos encontrar.

(texto publicado na edição em papel de 22 de junho de 2012)