Assinar

A preto e branco: Felicidade imperfeita

Felicidade é, de acordo com o dicionário, o estado de quem é feliz. Definição circular que ilustra a dificuldade em saber com clareza o que é isso de ser feliz.

Elsa Rodrigues, professora elsardrgs@gmail.com

Felicidade é, de acordo com o dicionário, o estado de quem é feliz. Definição circular que ilustra a dificuldade em saber com clareza o que é isso de ser feliz.

Quando a tentamos identificar encontramo-la quase sempre fora do presente: ou no passado, quando éramos felizes, ou no futuro, onde temos esperança de vir a ser. No presente, no quotidiano real e concreto, há chatices, ansiedade, desilusões, frustrações, medos. Há a dimensão entediante do trabalho e de dias sempre iguais. Há desejos que não se satisfazem. Há rugas e cabelos brancos. Há vazios. Há tristezas. Há vida. No presente concreto e imperfeito da vida quotidiana parece-nos difícil encontrar a felicidade que uma sociedade laica, consumista e hedonista nos impôs ao longo de décadas como ideal de vida. Como nos sentimos não felizes, entristecemos. Por vezes deprimimos. E especialistas vários explicam-nos que isso se deve à falta de amor (próprio e de outros), a más experiências durante a infância, ao funcionamento dos neurotransmissores cerebrais, ao trânsito dos astros ou às más energias. E receitam estratégias, químicas ou vivenciais, para reaprendermos a ser felizes. Mas há momentos (raros) em que existir simplesmente preenche todos os vazios de sentido. É neles, na serenidade de quem se resigna ao facto de que a vida é complicada mas vale a pena, que devemos começar a procurar a felicidade.

(Texto publicado na edição de 24 de agosto de 2012)