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A preto e branco: Felicidade possível

Pegue-se num homem ou numa mulher e mergu­lhe-se durante alguns anos na vida adulta. Tempere-se com projetos e/ou emprego satisfatório. Em caso de ir alterando consistência ou cor, deve tentar mudar-se emprego ou projetos, adicionar passatempos e juntar vida familiar em ponto de rebuçado.

Elsa Rodrigues, professora elsardrgs@gmail.pt

Pegue-se num homem ou numa mulher e mergu­lhe-se durante alguns anos na vida adulta. Tempere-se com projetos e/ou emprego satisfatório. Em caso de ir alterando consistência ou cor, deve tentar mudar-se emprego ou projetos, adicionar passatempos e juntar vida familiar em ponto de rebuçado.

Como recheio, junte-se numa forma flexível alguns quilos de livros, revistas, filmes e programas diversos e misture-se com música a gosto. Acrescente-se amizade em doses consideráveis, camaradagem, generosidade e uma ou duas gotas de paixão. Misture-se uma colher de chá de humor (negro se preferir). É indispensável adicionar uma dose abundante de consciência cívica, igual quantidade de espírito crítico, uma pitada de inconformismo, meia chávena de ideias feitas e atenção ao mundo quanto baste, misturando com alguma energia. Poderá ainda acrescentar-se dois cálices de imaginação e uma colher (de sopa) de fantasia. O recheio deverá ir sendo mexido lentamente, de modo a alcançar a consistência de um universo interior. Entretanto, mantendo o homem ou a mulher na marinada, deve ir-se adicionando o recheio com cuidado. Vai-se decorando com experiência de vida e polvilhando com autoestima (preferencialmente em pó para evitar cristalização em arrogância). Pode servir-se em qualquer circunstância.

(Este texto é dedicado a Amélia Pais, com um agradecimento pessoal por me ter ensinado, por palavras e com a vida, os ingredientes desta receita).

(texto publicado na edição em papel de 1 de junho de 2012)