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A preto e branco: Marte e Vénus

Passou mais um dia da mulher. Como qualquer dia comemorativo, serviu para celebrar a diferença, sublinhando-a.

Elsa Rodrigues, professora elsardrgs@gmail.pt

Passou mais um dia da mulher. Como qualquer dia comemorativo, serviu para celebrar a diferença, sublinhando-a.

Lembra que os restantes dias são, por defeito, dias do homem e acentua que cada género (ainda) habita espaços mentais e sociais diferentes. O que é legítimo: morfologia, fisiologia, constituição cromossómica e funcionamento neurológico são distintos, como o são também os papéis e estatutos, as necessidades afetivas e os mecanismos de autossatis­fação, bem como as representações que se aplicam a cada um dos géneros. A expressão “os homens são de Marte e as mulheres são de Vénus” ilustra esta estranheza estrutural e expressa as tensões latentes no modo como homens e mulheres coabitam o quotidiano, vindos de universos biológicos e culturais distintos. Mas apesar das diferenças a mulher lutou ativamente pelo direito de ser igual, acumulando (por vezes esquizofrenicamente) papéis e obrigando os homens a movimentos de reação, resistência ou adaptação. As identidades de género, residualmente estereotipadas, adaptam-se, nem sempre pacificamente, às novas vivências, procurando formas de conciliar yin e yang, Marte e Vénus, força e graça.
Mas, por não se resignar a ser menos do que tudo o que poderia ser, por procurar ser igual sem deixar de ser diferente, devemos celebrar a mulher, não em datas especiais mas todos os dias do ano.

(texto publicado na edição em papel de 9 de março de 2012)