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A preto e branco: O sul do norte

Os pontos cardeais têm um papel fundamental na divisão geopolítica do mundo e na determinação do valor relativo de cada país ou continente.

Elsa Rodrigues, professora elsardrgs@gmail.pt

Os pontos cardeais têm um papel fundamental na divisão geopolítica do mundo e na determinação do valor relativo de cada país ou continente.

Alternada ou cumulativamente, o mundo foi dividido em ocidente e oriente, norte e sul, leste e oeste. A classificação geográfica demarcou territórios mentais: ideológicos, políticos, culturais ou religiosos, e serviu para estabelecer as fronteiras de pertença entre nós e o resto do mundo, definindo as alianças e inimizades de cada momento. E, como constatou Baudrillard, os mapas impõem-se aos territórios: constroem muros, reais e imaginários, e marginalizam o que está para além deles.

Portugal, Espanha, Grécia e Itália foram, durante séculos, o sul do norte, mas, ao mesmo tempo, norte de um sul menos familiar e, por isso, aceites no ponto cardeal dominante. Entretanto, novas forças emergem a sul e a oriente, prontas a fornecer recursos e mercados, e a bússola geoestratégica reorienta-se. Para continuar a ser norte, a Europa reorganiza-se, preparando-se para excluir o sul mediterrânico, cultural e economicamente diferente, incapaz de se bastar a si próprio ou de gerir recursos de forma eficiente e limpa. E têm razão: as nossas economias atestam esse desnorte. Mas convirá não esquecer que qualquer dos membros deste novo sul, nos momentos definidores da identidade que o norte reclama, foi o centro do Mundo conhecido.

(texto publicado na edição em papel de 17 de fevereiro de 2012)