Ainda é uma dor de alma percorrer o Pinhal do Rei. Três anos depois do grande incêndio, não se esperava que “a catedral verde e sussurrante” se tivesse reerguido e, com ela, todos os cheiros e sons a que desde sempre nos habituámos.
Mas três anos é tempo suficiente para se introduzirem mudanças na floresta. É tempo bastante para repensar o modelo de gestão, para lhe afetar mais recursos, cuidar do seu ordenamento e limpeza.
Tão cedo não haverá pinheiros na Mata Nacional de Leiria. As árvores demoram a crescer. O tempo da natureza não corresponde ao tempo de uma vida humana, mas as políticas sim, andam ao ritmo que o Homem lhes quiser imprimir. E pela lentidão a que andam dir-se-á que este património é mal-amado.
Ai se D. Dinis visse o que por aqui se passa. Embora não tenha sido ele a ordenar a plantação do Pinhal de Leiria, é a ele que se deve o seu alargamento substancial com grandes sementeiras de pinheiro bravo.
D. Dinis é um dos reis mais interessantes da História de Portugal. Muito teriam os governantes de hoje, democraticamente eleitos, a aprender com este monarca que instalou a corte em Leiria e daqui partiu para inúmeras viagens e missões.
//= generate_google_analytics_campaign_link("leitores_frequentes_24m") ?>Fez muito pela instrução, pela língua portuguesa, pelo comércio, pela preparação da armada e pela justiça social. Mas, sobretudo, fez o que os políticos de hoje fazem apenas motivados pelo calendário eleitoral: viajou pelo país para conhecer, sentir, pensar e decidir.
Percebeu que governar é estar perto do que se governa e que o país será sempre melhor quando governantes e governados se encontram e dialogam.
Pois voltando ao Pinhal de Leiria, desde o incêndio, foram muitos os titulares de cargos públicos que aqui vieram plantar árvores. O gesto, porém, soou mais a folclore e a exibicionismo do que a interesse e compromisso. Como se isso pudesse apagar décadas de desleixo e incompetência.
O pinhal desapareceu. Ninguém o sente como nós, mas já seria consolo suficiente perceber que a sua regeneração está assegurada e que as gerações futuras vão poder usufruir de um património único pensado há 700 anos. Não é o caso.