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O Meu Diário: Crise

A crise está no centro de tudo. Em todo o lado apresentamse estratégias mais ou menos elaboradas para a ultrapassar, para a contornar, para a despistar, para a confundir e a atordoar. Também eu delineei as minhas próprias estratégias que sem complexos vou partilhar convosco.

Helena Vasconcelos, médica. hml.vasconcelos@gmail.com

A crise está no centro de tudo. Em todo o lado apresentamse estratégias mais ou menos elaboradas para a ultrapassar, para a contornar, para a despistar, para a confundir e a atordoar. Também eu delineei as minhas próprias estratégias que sem complexos vou partilhar convosco.

Em primeiro lugar, prever o que pode acontecer para não morrer de enfarte. E em relação a dinheiro tudo pode acontecer. Quem acreditaria há 3 anos atrás que nos podiam delapidar o ordenado, os subsídios e aumentar os impostos desta forma desmiolada? Quando eles vierem para levar mais, já nós estaremos à espera. Não morreremos de surpresa. A família deve sentar-se, pensar, discutir e implementar medidas que a possam atenuar. Claro que deixar de ver televisão é uma possibilidade se tal for considerado como essencial. Cultivar algo ou apenas deixar de gastar em alguma coisa é aconselhável. Regressar a alguma simplicidade pode ser um caminho.

Não ter vergonha de se dar como desesperado. Claro que todos nós contribuímos para escavar o buraco onde caímos, mas haverá gente mais responsável pelos milhares de más decisões que nos depositaram neste pântano. O que nos parece o fim do mundo não o é de facto, se pensarmos nas verdadeiras e irresolúveis desgraças que nos podem acontecer. Verdadeiras crises sem solução vejo eu todos os dias pelos hospitais. Urge pois relativizar. E para relativizar temos de nos afastar do problema para pensar em quanto mede e quanto pesa. Quando estamos muito perto tudo nos parece enorme.

A família tem de sair reforçada, todos devem partilhar de forma equilibrada angústias e soluções. Não faz sentido poupar as crianças à realidade e continuar a gastar dinheiro desnecessário com futilidades, que elas próprias deixariam de pedir se soubessem que os pais não podem. O que nos faz verdadeiramente felizes são os afectos, o sermos centrais nas vidas dos outros e isso só nos tiram se deixarmos. As melhores férias que tivemos, foram boas porque levámos determinadas pessoas e o melhor restaurante só faz sentido se pudermos partilhar com esta ou aquela pessoa. A humanidade é que nos faz felizes e essa sairá reforçada se quisermos. Dar valor e centralidade ao outro.

Estender a mão a quem nos rodeia: ser solidário. Começar pelos mais próximos e depois deixar esta atitude fluir para outros que podemos ajudar.

Ser civicamente responsável. Participar no que pudermos desde as associações de pais, às reuniões de Câmara, pedir esclarecimento acerca do funcionamento das coisas. Não deixar que nos roubem: estar atento sem ser persecutório. Eles fi zeram as asneiras mas fomos nós que os elegemos.

E por último, ser e consumir português.

E se isto não resultar: emigrar.

(texto publicado na edição em papel de 28 de Outubro de 2011)