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Identidade e território: Biológico não é cliché

Com a revolução industrial surgiram os rótulos, não os das embalagens, mas sim os da agricultura.

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João Forte, geógrafo físico jfortegeo@sapo.pt

Com a revolução industrial surgiram os rótulos, não os das embalagens, mas sim os da agricultura. A até então, simplesmente, agricultura, começou a ser rotulada como agricultura biológica, enquanto que a agricultura industrial foi rotulada simplesmente como agricultura. Esta rotulagem é, para mim, atentatória, pois perverte a lógica das coisas. Hoje em dia muitos são induzidos a pensar que os produtos de uma agricultura intensiva, muitas vezes com recurso a OGM´s, é que devem ser primeira opção, considerando que a agricultura biológica é um cliché. Isto mesmo que os avós de muitos destes desatentos tenham sido criados com a agricultura biológica e sem OGM´s.

A dita agricultura biológica até passa como algo de chique e fino para muitos, embora não o seja. Esta está intrinsecamente ligada aquelas paisagens que tanto gostamos e, supostamente, valorizamos, enquanto que a intensiva destrói estas mesmas paisagens e culturas associadas. Somos vítimas de campanhas que visam retirar valor aquilo que é fundamental. É uma inversão de valores comandada por empresas como a Monsanto, que se move na sombra. Não podemos desligar-nos de um território, temos sim de ligarmo-nos a ele, percebendo a importância da agricultura tradicional e das variedades tradicionais, independentes de interesses predatórios, onde o lucro é quem mais ordena. Acorda Portugal!