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Margem esquerda: O povo unido

Sempre me surpreendeu a capacidade de sofrimento dos portugueses, muitas vezes confundida com resignação.

Adérito Araújo, professor universitário aderito.araujo@gmail.com

Sempre me surpreendeu a capacidade de sofrimento dos portugueses, muitas vezes confundida com resignação. É verdade que gostaria que fôssemos mais inconformados, mas reconheço que este dado de carácter faz de nós um povo excecional, capaz de encarar a mudança mesmo quando esta implica sacrifício.

Passos Coelho, político inexperiente e arrogante, subestimou o povo português. Embalado pelo mito dos brandos costumes, o nosso primeiro acreditou que poderia aplicar a sua receita liberal a todo o custo, empobrecendo quem vive do seu trabalho. Mas ao revelar um trágico desconhecimento da realidade nacional e um total desrespeito pela nossa inteligência, minou a réstia de confiança que tínhamos nas instituições democráticas.

A resposta que demos no sábado enche-me de orgulho. Numa manifestação pacífica mas com uma firme mensagem de repúdio pelo caminho suicida que nos querem impingir, mostrámos que continuamos a acreditar na democracia mas também que exigimos novas formas de participação cívica, que enriqueçam a democracia representativa.

Não foi a primeira vez que participei numa manifestação nem será provavelmente a última. Mas, desta vez, foi diferente. Foi a primeira vez que senti, verdadeiramente, o nosso povo unido. E, como muitos gritámos: o povo unido jamais será vencido!

(texto publicado a 21 de setembro de 2012)