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Media e responsabilidade(s)

. Dá-se a infeliz coincidência deste 27 de Dezembro marcar a última edição do jornal da diocese de Leiria-Fátima, que sucedeu a O Mensageiro (1914-2013) e A Voz do Domingo (1933-2013). Um desfecho justificado pelo “pesado saldo negativo, resultado dos inevitáveis encargos financeiros e das reduzidas receitas que conseguiu garantir”.

 

 

Os media estão em dificuldades. Entre os regionais e locais, os encerramentos vão-se sucedendo. Sobretudo entre os jornais. Um balanço que infelizmente não se tem alterado, ano após ano. As dificuldades económicas são a principal causa. O empobrecimento da democracia e o desemprego de uns quantos trabalhadores, são duas das consequências. “Situação de emergência”, assim apelidou recentemente o próprio Presidente da República, precisamente num momento de reconhecimento ao (bom) jornalismo que se faz em Portugal (houve uma série de personalidades a escrever sobre o assunto, das quais destaco dois artigos do antigo jornalista e actual professor e investigador Manuel Pinto: #1 e #2). Urge agir, sobretudo quando se adensa o fenómeno das “notícias falsas” e caminhamos para mais umas eleições Legislativas (6 de Outubro de 2019), sector – da política – onde elas se vão (des)multiplicando. Não se trata de pedinchar ou de pedir esmola ao Estado, mas de reconhecer o papel dos media. E, já agora, de seguir as sugestões deixadas recentemente por duas associações representativas do sector, que o editorial da edição de 6 de Dezembro do REGIÃO DE LEIRIA deu conta.

O que será o futuro dos media, não sabemos. Já nós por cá, ficámos a saber que o Presente não terá futuro. Dá-se a infeliz coincidência deste 27 de Dezembro marcar a última edição do jornal da diocese de Leiria-Fátima, que sucedeu a O Mensageiro (1914-2013) e A Voz do Domingo (1933-2013). Um desfecho justificado pelo “pesado saldo negativo, resultado dos inevitáveis encargos financeiros e das reduzidas receitas que conseguiu garantir”, comunicou D. António Marto. Pelo meio, o semanário passou a quinzenário. Recorde-se que foi o mesmo “peso económico” que justificou a opção de há cinco anos, para terminar, por exemplo, com o jornal que serviu de instrumento para restaurar o antigo bispado de Leiria – que se concretizou em 1918 e cujo centenário Leiria-Fátima comemorou ao longo do último ano. Antes, como agora, as justificações são vagas. Não há números que sustentem o afirmado, o que seria bom, a bem da transparência.

Sobre a viabilidade financeira dos projectos e por uma questão de responsabilidade social, que formação e experiência no sector tinham aqueles que ao longo dos anos foram sendo nomeados para decidir, nomeadamente para recuperar os anteriores projectos e o novo que agora acaba? Vamos continuar a insistir em padres para dirigir ou administrar instituições e projectos, assoberbando-os com tarefas para as quais muitas vezes não estão habilitados e afastando-os da sua principal missão? Que tempo sobra para os leigos? E não os haverá com perfil para aquelas tarefas?

Fica claro que nem sempre a Igreja aprecia o jornalismo (o título de 2013 na RTP é, em parte, ilustrativo: “Diocese Leiria-Fátima fecha dois jornais e abandona jornalismo regional”), sobretudo quando este procura cumprir a sua missão, questionando, incomodando; e, pior do que isso, não vejo uma distinta maneira de agir, comparativamente a situações de crise pelas quais passam tantas empresas, que nada têm a ver com a Igreja. E precisamente por causa deste último ponto, surgem-me mais algumas questões, com as quais termino: o que teria sido do anúncio da Boa Nova / Notícia, se a principal preocupação / o ponto de partida de Jesus Cristo e dos seus discípulos não tivesse sido isso mesmo, mas questões de âmbito económico-financeiro? O que é que mais importa, o fim ou a forma de lá chegar? Mas afinal, Deus existe ou não? Providencia ou não?

Um próspero 2019, com as bênçãos do Deus Menino.

* Esta é uma versão alargada do artigo originalmente publicado na edição de 27 de Dezembro de 2018 do semanário REGIÃO DE LEIRIA.