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Mulher 3.0: Focusgesprek

Amanhã tenho a minha primeira focusgesprek com o meu chefe. A palavra praticamente impronunciável significa em holandês que terei a minha primeira conversa sobre o meu futuro na empresa.

Catarina Gomes, jornalista catarina.gomes.junior@gmail.com

Amanhã tenho a minha primeira focusgesprek com o meu chefe. A palavra praticamente impronunciável significa em holandês que terei a minha primeira conversa sobre o meu futuro na empresa. Estou assustada. Sinto que é agora ou nunca, ou serei a princesa que vive no conto de fadas com direito a telemóvel da companhia, ou me juntarei a essas estatísticas, felizmente ainda para mim anónimas, que me invadem todos os dias a minha newsfeed no Facebook.

Anónima, incapaz, ou sem futuro, não quero ainda ser rotulada de vencida. Paro para pensar, respiro fundo e reflito sobre o que um outro superior me disse “Catarina, esta hora servirá para nos concentrarmos nas tuas capacidades”. A minha tradução: “Catarina, esta hora servirá para nos concentrarmos nas tuas falhas”. “Minha querida, queremos que dês o teu melhor nos próximos meses, e que estes sejam de crescimento pessoal”. O meu cérebro diz: “Catarina, nos próximos meses irás especializar-te em screenshots e atendimento profissional ao telefone”. Respiro fundo e olho para a janela. Nunca em quase dez anos de trabalho – nas mais diversas profissões, de lavar pratos a vender sapatos -, alguém me tinha perguntado como me vejo a evoluir numa empresa. Agora, tenho um chefe que se preocupa em falar comigo. Estranho. Sou aparentemente uma moça com sorte.

(texto publicado a 18 de abril de 2013)