Assinar

O meu diário: Carnaval

Esta ideia de acabar com os festejos já tinha vindo à cabeça de alguém na década de 90 e rezam as más-línguas que valeu ao Professor Cavaco Silva uma derrota nas eleições seguintes.

Helena Vasconcelos, médica hml.vasconcelos@gmail.com

A velha e revolucionária canção em que “eles comem tudo, eles comem tudo” só me vem à cabeça numa nova forma de “eles tiram tudo, eles tiram tudo e não deixam quase nada” para além do Natal e do 25 de Abril.

Claro que me estou a referir aos feriados e claro que esta critica assumida não resulta da erradicação dos feriados religiosos e civis mas do nosso bem-amado Carnaval. Esta ideia de acabar com os festejos já tinha vindo à cabeça de alguém na década de 90 e rezam as más-línguas que valeu ao Professor Cavaco Silva uma derrota nas eleições seguintes. Nem este mau augúrio pesou na decisão.

Alguma vez nos passava pela cabeça que o Passos Coelho iria deixar o Carnaval quando estava a mexer em símbolos tão sérios como a Restauração ou a Implantação da República? A mim querido primeiro passou-me sim, pelo menos este ano, em que tantas terrinhas investiram a sério nos festejos e que vão ver defraudadas as suas legítimas expectativas. Não ligues que a minha ingenuidade é bastante para acreditar que os políticos possam ter uma pitada de bom senso. Achei que essa decisão implicando tanto dinheiro para alguns cidadãos deveria ser planeada á distância de um ano para evitar prejuízos. Sou uma lírica é o que é. Vamos lá produzir ponto final, vamos lá trabalhar parágrafo. Mas não contem comigo para serviços mínimos, ou trabalho ou não trabalho, e neste caso trabalho o habitual, o costume, o mesmo número de todas as terças feiras.

As minhas desculpas públicas à Nazaré, à Mealhada, a Torres Vedras e tantos outros sítios em que o carnaval representa um estímulo à economia local e é um verdadeiro anti-depressivo para as suas populações, promovendo o associativismo local e a capacidade organizativa.

Nunca fui uma grande fã do Carnaval mas com o envelhecimento tenho vindo a achar-lhe mais piada, talvez indiciando a aproximação aos gostos da infância. Gosto da transgressão, da dissimulação e depois de ser descoberta, de ser parcialmente identificada, de acharem que talvez seja eu debaixo daquela fantasia.

Oh meu caro Portugal que não te falte nada. Se isto correr mal que não seja por culpa desta humilde funcionária pública que tem dado o seu contributo constante e contínuo sob a forma de IRS e IRC, IVA e mil impostos extraordinários para combater a crise. Mas se isto correr pró torto contem comigo para mover uma ação de despejo a estes meninos exigindo entre outras coisas o pagamento dos 16 euros do fato de Faraó.

(texto publicado na edição em papel de 10 de fevereiro de 2012)