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Helena Vasconcelos

Médica

O meu diário: Covid 19

Está o mundo assustado! Estamos todos assustados. Por principalmente duas razões: mudaram-nos a nossa forma de viver, não nos dão tempo para nos adaptarmos às situações e a possibilidade de fuga não existe, porque a ameaça é global.

Quando estamos a tentar aceitar uma situação, o paradigma muda e já não é para fazer assim. O desafio desta guerra está aí. É absolutamente necessário cumprir as ordens e não refutá-las como se todos fossemos especialistas de todas as áreas médicas, de saúde pública e de macroeconomia. Todas as decisões são criticáveis mas temos de estar juntos nelas. Pensem que esta será a nossa guerra mundial, que esta geração vai ter que solucionar.

Para nós, profissionais de saúde o desafio é ainda maior, porque se por um lado a maioria quer entrar e vencer esta batalha, por outro lado, não nos conseguimos afastar da nossa condição de humanos. Sentir que a população está connosco é importante, que nos batem palmas, que nos disponibilizam casas para ficar e que se oferecem para nos tomar conta dos nossos familiares. Sabemos que estamos na linha da frente e queremos que saibam que estamos apreensivos, mas preparados tanto quanto possível para enfrentar esta calamidade. Não é tempo para “chico-espertos” mas não deixa de ser tempo de mudança, de perspicácia e de ousar arriscar um pouco mais por excesso do que por defeito. O que tem de positivo esta desgraça: a valorização das pequenas coisas; a superação psicológica individual e das famílias; a unidade entre todos. E já agora o respeito pelo SNS e seus profissionais! 

Qualidades a apurar: a resiliência. Temos de ser resilientes, pacientes e solidários. Os jovens têm de acatar as ordens de permanecer em casa. Usem aquelas aplicações que permitem convívio à distância, arrumem o quarto, arrumem as ideias. O resto do mundo está lá à espera de melhores dias.

Leiria tem dado cartas e provas que vai conseguir sair desta com dignidade e com danos colaterais mínimos. Vamos cultivar este espírito. Estamos juntos neste barco, estamos juntos nesta cidade. Vemo-nos pouco é certo mas sabemos que todos estão a dar o seu melhor, ainda que alguns estejam sentados a jogar dominó.

(Artigo publicado na edição de 19 de março de 2020 do REGIÃO DE LEIRIA)