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O meu diário: Papa

Dizem que não sou exigente em matéria de Papas. Gosto deles todos. Criticam-me. Mas todos os que conheci tinham um lado de excelência, que eu, como católica, tenho de apreciar.

Helena Vasconcelos, médica hml.vasconcelos@gmail.com

Dizem que não sou exigente em matéria de Papas. Gosto deles todos. Criticam-me. Mas todos os que conheci tinham um lado de excelência, que eu, como católica, tenho de apreciar. Sempre que habemus papam os assuntos são tão semelhantes e ridículos que me irritam. Tudo se parece resumir ao preservativo, à homossexualidade e às mulheres serem padres. Se o Papa for a favor do preservativo vamos acreditar mais em Cristo? E se as mulheres forem padres vão desatar todos a ir à missa? Infelizmente a fé é uma coisa maravilhosamente complexa que ultrapassa estes fait divers, que tem que ver com uma interioridade que é inquietante. Acreditar num ser superior que tudo comanda, que nos ama, o que é isso comparado com o raio do preservativo? Não me parece que a sua liberalização, e mesmo incentivo ao seu uso, conduzisse ao aumento do número de fiéis. Ser seguidor de Cristo é duro porque a exigência vai muito para além de sexo e outros domínios semelhantes. O difícil é mesmo acreditar, o resto vem por inerência.

E depois é porque os padres são uns pecadores e que o lobby gay domina o Vaticano que a imagem da Igreja está nas ruas da amargura. E o que sobra para o diálogo interior? Para a reflexão? As pessoas andam todas à procura de algo que as conduza a essa interioridade, a essa paz, a essa segurança. Como diz uma amiga freira, só a fé é certa e segura, tudo o resto se pode desmoronar. Não fiquem aí a pensar que sou um exemplo de virtude porque a minha luta é diária e cheia de fracassos. Também não me parece o lugar apropriado para expor todas as minhas fraquezas.

Gosto do Papa Francisco próximo dos pobres, preocupado com as pessoas e com os que sofrem. Gosto deste Papa Francisco a pôr de lado a opulência do Vaticano e a descer até cada um de nós. Gosto dele a lavar os pés aos reclusos, a pôr de lado os sapatos vermelhos e a dar as mãos aos que não são católicos ou que têm outras crenças. Gosto deste meu Papa, gosto deste nosso Papa. Sou Papa transigente.

(texto publicado a 4 de abril de 2013)