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Opinião: Centro Cívico

António Cova, artista analista

Numa era em que vivemos envoltos em buracos financeiros, crateras sociais e fossos culturais, é com algum agrado que olho para Leiria e para o projeto que parece querer tapar o conhecido “Buraco” da Rua Barão de Viamonte (Rua Direita).

Este meu agrado é apenas fomentado pela forma como encaro este tipo de decisões, tentando ao máximo compreender as escolhas tomadas. Estou há meia hora a olhar para o pouco que escrevi e a tentar conjugar positivamente o benefício do futuro Centro Cívico na colmatação dos três fenómenos de vácuo citados de início.

Tudo isto, por sentir hoje uma necessidade compulsiva de não criticar, uma portuguesa vontade de “lamber botas”, o querer harmonioso de uma lógica inexistente. Não consigo… nem no único aspeto que poderia considerar de benefício oportuno: o facto de ter sido uma obra comparticipada na sua grande parte.

Não me desprendo da ideia de que se me oferecerem cem euros e estiver a morrer de fome, a dádiva deixa de ser útil se não comprar comida. Contudo, há que salientar a corajosa criação de um espaço de convívio para terceira idade e para a juventude, dividido ao meio por uma praça pública.

Não fosse o aberrante enquadramento arquitectónico do edifício a degradar a minha iminente boa vontade de enaltecer os gostos dos requerentes do projeto e até conseguiria sonhar em alguns aspetos positivos: a praça pública será um bom local para pernoitar em pleno convívio após o fecho dos bares à meia-noite e o convívio intergeracional poderá ser fomentado através da comunhão de experiências.

Quando forem oito da manhã estarão ambas as gerações ainda sem dormir: é justo e bonito.

(texto publicado na edição em papel de 9 de Dezembro de 2011)