O racismo sempre existiu em Portugal, judeus, ciganos, mouros, negros foram as suas vítimas privilegiadas. Os judeus e os mouros foram expulsos no século XV, os negros descendentes dos escravos desapareceram e só os ciganos ficaram por cá.
Em tempos mais recentes a imigração de africanos ganhou expressão nos anos 60 do século passado para compensar a escassez de mão-de-obra para grandes obras públicas. A Cova da Moura, o Jamaica e outros bairros idênticos são testemunhos vivos dessa diáspora silenciosa com expressão mais visível na Grande Lisboa.
O episódio que por estes dias tem alimentado o debate sobre uma alegada agressão policial a uma cidadã africana é uma exemplar ilustração de uma sociedade amedrontada com fantasmas e incapaz de afirmar valores e princípios que se julgavam fundamentais.
Entre a liberdade de cada um fazer o que quer e o cumprimento da lei e da ordem pública de que lado estamos? São as forças policiais que têm comportamentos racistas ou é o país que é racista a despeito do politicamente correto se esforçar para fingir o contrário?
//= generate_google_analytics_campaign_link("leitores_frequentes_24m") ?>Se não houvesse racismo em Portugal as segundas e terceiras gerações daquelas famílias teriam evoluído a outro ritmo e não ocupariam os últimos lugares em todos os indicadores de escolaridade e emprego que só a hipocrisia nacional finge ignorar uma vez que oficialmente não há grupos étnicos diferenciados em Portugal.
Naqueles bairros de vergonha para governos e autarquias é que se observa o racismo em todo o seu esplendor na discriminação de quem não tem o mínimo para viver, não consegue dar educação aos filhos, não tem emprego, e se vive na fronteira de mundos desiguais.
O combate ao racismo faz-se reduzindo as desigualdades, fomentando a discriminação positiva, promovendo a homogeneidade social. O racismo não é um caso de polícia, é uma questão social.
(Artigo publicado na edição de 30 de janeiro de 2020 do REGIÃO DE LEIRIA)