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Passageiro do tempo: Família mínima

Longe vão os tempos das famílias patriarcais bíblicas onde todos os membros nasciam, viviam e morriam no seio das comunidades familiares. Ao longo dos séculos, consoante as geografias e os períodos temporais, as famílias assumiram formas muito diversas…

jmsilva.leiria@gmail.com

Longe vão os tempos das famílias patriarcais bíblicas onde todos os membros nasciam, viviam e morriam no seio das comunidades familiares. Ao longo dos séculos, consoante as geografias e os períodos temporais, as famílias assumiram formas muito diversas e no século XX o acesso massivo das mulheres ao mercado de emprego, a utilização da pílula contracetiva, a revolução feminista e a liberalização dos costumes, contribuíram para gerar novas configurações familiares, que a par de outras transformações profundas estão a mudar toda a vida social do berço à morte ao mesmo tempo que as organizações estão a conquistar o terreno da família.

Hoje nasce-se em hospitais, a creche é a substituta da mãe nos primeiros anos de vida, a escola encarrega-se de transformar crianças em jovens adultos prontos para a vida ativa e embora continuemos a querer acreditar que a educação é obrigação da família, a verdade é que as instituições educativas são hoje o principal veículo de educação e formação.

Nos locais de trabalho é onde os membros adultos da família passam mais horas, interagindo em casa mutuamente e com os filhos pouquíssimo tempo, a maior parte das vezes em condições stressantes e de pouca qualidade relacional.

Ao envelhecer-se é frequente o suporte familiar ser débil, a doença e a solidão uma ameaça e, perdida a autonomia, a solução ser um lar ou algo idêntico.

Durante toda a vida os hospitais foram a resposta especializada que a família não pode oferecer e é lá que a maior parte enfrenta a morte. Finalmente, é uma agência mortuária que se encarrega das últimas exéquias.

A família tem perdido terreno, da família alargada chegámos hoje a um estádio de família mínima e em muitas situações incapaz de concorrer com as organizações que lhe disputam o lugar. É o fim da família? Não creio, mas é um desafio imenso.