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Passageiro do tempo: O tempo longo da História

José Manuel Silva

Vivemos numa época em que tudo parece ser vivido e esgotado no momento. É o tempo da comunicação instantânea e em rede, sempre informados, sempre carentes de informação, muitas vezes mal informados e pouco esclarecidos.

jmsilva.leiria@gmail.com

Vivemos numa época em que tudo parece ser vivido e esgotado no momento. É o tempo da comunicação instantânea e em rede, sempre informados, sempre carentes de informação, muitas vezes mal informados e pouco esclarecidos. A maioria das questões noticiadas não são compreensíveis se apenas olhadas pelo flash informativo do momento, muito menos, se à compreensão se substituir o desejo de estimular as sensações.

Quando, por exemplo, se prende sob o olhar atento das câmaras de televisão, não interessa o que representa essa prisão, apenas as sensações que se despertam num público ávido de voyeurismo e sempre pronto a excitar-se com espetáculos onde há sofrimento, vítimas e força bruta. Sempre assim foi desde que a espécie humana deixa a sua pegada no planeta.

À contextualização rigorosa dos factos, prefere-se o lado escandaloso que se adensa pela forma como as histórias são narradas, como os protagonistas são caricaturados, a traço grosso, como se tudo fosse a preto e branco e apenas houvesse uma versão, a que se vai escrevendo como somatório de opiniões diversas, que se confundem com a heurística e a hermenêutica indispensáveis ao tratamento credível de qualquer matéria, seja um crime ou um ato de heroísmo.

O populismo é a máscara mais visível do reflexo desta informação do instante e não surpreende que estejamos a ver empolgar-se a onda que por todo o mundo varre as democracias e ameaça fortemente a estabilidade europeia e mundial, quando o desnorte dos eleitorados se torna no veneno com que atentam contra si próprios.

É oportuno recordar que o tempo breve não permite descortinar o mais importante, isso só o tempo longo nos concede alcançar, a miríade informativa não dispensa a reflexão serena da realidade, pois nem tudo se esgota no tempo de uma notícia sensacionalista.

(Artigo publicado na edição de 31 de maio de 2018)