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Chatbots de IA: solução ou armadilha para a saúde mental?

Chatbots como o ChatGPT ajudam na saúde mental, mas não substituem a terapia. Saiba o que é uma VPN e como proteger conversas sensíveis.

Capaz de ouvir desabafos a qualquer hora, o ChatGPT já é, para alguns, um “terapeuta” de bolso. Mas será que a inteligência artificial pode mesmo preencher o vazio deixado pela falta de apoio humano?

Hoje, quem se sente sozinho, ansioso ou com necessidade de desabafar, pode abrir o telemóvel e escrever algumas frases para encontrar um ouvido à escuta. Não é preciso marcar consulta, esperar uma semana nem justificar ausências no trabalho. Basta abrir o chat.

Os chatbots são capazes de responder de forma convincente, sugerir estratégias de autocuidado e até simular empatia – tudo num tom que soa a humano. Mas será que esta solução digital está mesmo a ajudar ou veio criar problemas novos?

Solidão e riscos reais

Há quem confesse que, depois de meses a falar com o chatbot, se sente ainda mais isolado do mundo real. Além disso, é importante lembrar que ele não faz diagnósticos clínicos, não trata doenças mentais graves e não substitui o acompanhamento especializado.

Organizações como a American Psychological Association têm insistido que estas ferramentas devem ser encaradas como um complemento e não como substituto do acompanhamento psicológico. São úteis para aliviar a tensão, mas não para lidar com crises de depressão, tendências suicidas ou traumas profundos. Nessas situações, o ser humano continua a ser insubstituível.

Existe ainda o risco de dependência do chatbot. De acordo com um estudo publicado na National Library of Medicine, o uso excessivo destes “terapeutas de bolso” pode aumentar o sentimento de solidão. Sem a presença física de um psicólogo, sem um olhar atento e a escuta atenta, a relação entre o paciente e a tecnologia torna-se fria e mecânica.

No entanto, há alguns aspetos positivos associados à utilização de meios digitais no contexto da saúde mental: investigadores da Universidade de New South Wales mostraram recentemente que os chatbots podem reduzir algumas barreiras clássicas no apoio psicológico. O estigma, o custo elevado das consultas ou o medo da exposição deixam de ser obstáculos quando se tem um assistente virtual sempre pronto a ouvir.

Roomie, uma solução portuguesa

Em Portugal, um grupo de psicólogos resolveu seguir a velha máxima “Se não podes ganhar, junta-te a eles” e criou um assistente virtual capaz de identificar emergências e redirecionar os utilizadores para estruturas de apoio humano.

O Roomie consegue detetar a linguagem humana e foi criado para apoiar pessoas com perturbações de ansiedade, depressão e outros problemas emocionais, de forma gratuita. Foi apresentado no 6.º Congresso da Ordem dos Psicólogos Portugueses, como um complemento ao acompanhamento profissional.

Mas as soluções digitais levantam uma questão crítica nem sempre contemplada pelos utilizadores: a preservação da privacidade. Ao contrário do que acontece com o aconselhamento psicológico, partilhar pensamentos íntimos, memórias dolorosas ou detalhes da vida pessoal com um chatbot implica enviar essa informação para servidores que processam e armazenam dados.

O papel de uma VPN

Mesmo que as empresas de chatbots prometam segurança, a realidade é que as falhas acontecem. Basta uma vulnerabilidade ou uma política de privacidade frágil para que tudo o que foi escrito fique ao alcance de terceiros ou possa usado para fins comerciais.

Por isso, cada vez mais especialistas aconselham quem recorre a estes serviços a tomar medidas de proteção digital. É aqui que surge a pergunta que muitos ainda fazem: o que é uma VPN? Uma VPN (rede privada virtual) é uma ferramenta que cria uma ligação encriptada entre o dispositivo do utilizador e a internet. Isto significa que qualquer informação partilhada fica protegida de olhares indiscretos, hackers ou empresas de publicidade que vivem da recolha de dados pessoais.

Usar uma VPN ao interagir com o ChatGPT ou outro chatbot de saúde mental é uma forma simples de reduzir os riscos. Não resolve tudo, mas ajuda a garantir que as conversas confidenciais não sejam intercetadas nem monitorizadas. Para quem conversa sobre temas tão sensíveis como o bem-estar psicológico, traumas ou pensamentos íntimos, esta camada de segurança proporciona uma tranquilidade maior.

Usar a tecnologia com cautela

A simples rejeição da tecnologia não é, pois, a solução. Mas é preciso percebermos como a utilizar de forma consciente, sabendo o que está em jogo. Para quem nunca teve coragem de marcar uma consulta, um chatbot pode ser o primeiro passo para ganhar coragem. Para quem já faz terapia, pode ser um apoio útil entre sessões, que em nenhuma circunstância deve substituir o cuidado humano, a escuta atenta e a relação terapêutica com um profissional.

A inteligência artificial continuará a evoluir. Talvez um dia consiga compreender emoções de forma mais profunda ou até ajudar psicólogos humanos a personalizar os tratamentos. Mas até lá é preciso informar, proteger e lembrar que, em matéria de saúde mental, não há atalhos digitais que substituam a relação entre duas pessoas.

Por isso, se sentir necessidade de apoio, não hesite em procurar um profissional. E, se usar a tecnologia como complemento, proteja-se: use uma VPN, informe-se sobre as políticas de privacidade e, acima de tudo, não confunda um chatbot com um terapeuta. Porque, em última análise, a empatia verdadeira continua a ser humana e essa ainda não se programa por código.