Oficinas de teatro, conversas sobre saúde mental, atividades para famílias e muita, muita música e dança folk. O festival Bate o Pé põe São Mamede, no concelho da Batalha, a mexer este fim de semana, 6 e 7 de dezembro, com dois dias repletos de workshops e bailes dedicados às novas danças portuguesas e europeias.
Na Junta de Freguesia, o programa começa pela manhã de sábado, mas a dança arranca À tarde, com oficinas “Tra’de cá, tra’de lá”, por Bruno Mendes, e “A par e passo”, com Matias. À noite, há bailes a partir das 22 horas com Folky Balboa e Arinto.
No domingo, à tarde as oficinas são dedicadas a “Bailemos e bem”, por Dançarém, e “Fadinho folk – Danças portuguesas do centro”, com Marisa Barroso. À noite, dança-se com as bandas Baldio e Limonada.
O bilhete para todo o festival custa 40 euros, mas há ingressos para as manhãs (6 euros) e tardes e noites (12 euros). Para habitantes na freguesia de São Mamede a entrada é gratuita. Bate o Pé é organizado pela associação Espírito Claro.

A tradição esquecida de dançar o fado
Um dos destaques do festival Bate o Pé é a oficina dedicada ao Fadinho e a outras danças do centro de Portugal, dinamizada na tarde de domingo pela professora e investigadora Marisa Barroso.
Entusiasta das danças folk e investigadora na ESECS Leiria, Marisa Barros explica que o Fadinho foi uma dança portuguesa que sempre lhe despertou curiosidade:
“O fado, enquanto música, é muito conhecido e amplamente estudado. O fado sempre foi dançado, mas perdeu, de alguma forma, o seu espaço na comunidade, ao ponto de, para muitos, o facto de o fado ser também uma dança causar grande espanto”.
No tempo áureo dos bailes, o fado era tão dançado como as valsas ou corridinhos. “Mas não ficou na sociedade – perdeu-se quase por completo, permanecendo agora apenas nas performances dos grupos etnográficos/ranchos folclóricos”, sublinha.
A investigadora visitou ranchos para estudar diversas danças, tendo identificado particularidades nos fadinhos – “‘inho’ porque é pequenino, tem quase sempre apenas duas partes” – desta região.
“Na zona mais a norte do distrito de Leiria encontram-se detalhes mais modestos no trabalho dos pés, enquanto a sul, e mais próximo do que se identifica como Ribatejo, surgem passadas mais raspadas, varridas, levantadas e meio afandagadas, aproximando-se de passos típicos do raspa e bate do fandango”.
Por outro lado, se “os fados costumam ter uma viragem alternada entre o par e o contra par e, depois, uma volta com o par – mais ou menos composta, conforme a tradição”, o fadinho tem quase sempre apenas duas partes: “Uma muito lenta, um passeio com o passo típico do fado, e outra muito rápida, com voltas para um lado e para o outro”.
“Nos ranchos que visitei e cujas danças analisei, observei diferentes formas de executar estas voltas: sozinho, alternando entre par e contrapar, ou em conjunto com o par, rodando num sentido e depois no outro”, descreve.
Para Marisa Barroso, “a diversidade dos fados é impressionante, e a dos fadinhos é ainda mais apaixonante”:
“Com tão pouco, expressam tanto. Há neles uma contradição bonita – uma complexidade simples, uma dança pequena onde cabe uma enorme quantidade de expressão e carisma”.
São essas técnicas e detalhes que Marisa vai partilhar com os participantes da oficina de Bate o Pé. “Há muitos outros aspetos das danças portuguesas que são uma delícia – particularidades, gestos e ritmos que, juntos, revelam uma grande sensibilidade”.
Em São Mamede, por isso, há a rara oportunidade de aprender a dançar o Fadinho, “esse pequeno fado dançado do Centro de Portugal, é também folk: é exótico, erótico, vivo e contraditório. E merece ser redescoberto”.
