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Cultura

Neuza Bettencourt: “EMOL tem desenvolvido um percurso muito digno e evolutivo”

A directora pedagógica da Escola de Música do Orfeão de Leiria faz o balanço dos 20 anos de oficialização das escola, que envolve actualmente mais de 600 alunos.

O Orfeão de Leiria entrou na vida de Neuza Bettencourt no ano lectivo de 1996/97. Foi aí que começou a aprender  flauta transversal. Hoje é professora da instituição, acumulando com a direcção pedagógica da Escola de Música do Orfeão de Leiria (EMOL), que completa 20 anos de oficialização.

Uma história de duas décadas a que Neuza Bettencourt assistiu e participou quase na totalidade. É da directora pedagógica o balanço os 20 anos da EMOL:

O que representa para a EMOL comemorar duas décadas de actividade?
Atrevo-me a dizer que o mesmo que representa para um ser humano atingir a maioridade. Este é sem dúvida um marco

Neuza Bettencourt

na história da escola e da instituição, que tem desenvolvido um percurso muito digno e evolutivo, do ponto de vista musical, cultural e social. A escola nestes vinte anos construiu um nome, muitos foram e são os professores de qualidade que por aqui passaram e que continuam a fazer parte do nosso quadro, ajudando a consolidar as classes que temos na casa. Muitos têm sido os alunos que se licenciaram em Música e muitos são os que, neste momento, estão a desenvolver os seus percursos académicos na Universidade. O facto de termos um total de 56 professores, 14 dos quais são ex-alunos da escola, já é indicativo disso mesmo. Não posso deixar de referir os vários prémios que os ex-alunos e alunos da EMOL têm conseguido ao longo destes anos, sendo para nós um motivo de grande orgulho, como as várias participações em eventos nacionais como o “Escolas em Palco” nos Dias da Música ou os “1001 Músicos”. Ao longo destas duas décadas, a escola tem também crescido o número de alunos, de momento frequentam a EMOL cerca 600 alunos de música (não incluindo os alunos do Conservatório Sénior e da Escola de Dança). O culminar de toda esta aposta na educação e na cultura teve o seu retorno quando, no ano lectivo anterior (2009/10), o Ministério da Educação, através da sua entidade representativa no centro (DREC), decidiu atribuir autonomia pedagógica à escola, dando-nos um grande voto de confiança. Um momento de grande satisfação e recompensa, e, sem dúvida, uma antecipação dos festejos deste ano.

Que instrumentos é possível aprender no Orfeão de Leiria?
A EMOL, de momento, lecciona 25 instrumentos diferentes. Desde os instrumentos de sopros e cordas mais conhecidos – graças ao riquíssimo leque de oferta que possuímos através das Filarmónicas e da Orquestra de Sopros da escola, que têm feito um trabalho meritório nesta área, e através das Orquestra de Cordas e dos Estágios de Orquestra Sinfónica que temos proporcionado – à percussão, guitarra eléctrica, acordeão, órgão de tubos, cravo ou até mesmo a harpa. Este último, ainda muito pouco praticado nos diversos conservatórios de música do país, e do qual temos tido uma experiência bastante enriquecedora e positiva.

O que faz um professor da EMOL sentir-se realizado? Ver um aluno chegar a músico profissional?
A realização de um professor não provém apenas desse factor. Os professores dos conservatórios têm um lugar privilegiado na educação. O contacto inter-pessoal é, no caso dos professores de instrumento, de um para um e não de um para uma turma. Esta variável permite um contacto mais directo com o aluno e o seu crescimento pessoal e emocional, que interfere positivamente na construção da sua personalidade e da sua consciência. O facto de também podermos acompanhar o trajecto do mesmo, desde a aprendizagem das primeiras notas até um nível mais elevado da aprendizagem é, sobremaneira, gratificante. Este tipo de continuidade não existe, a este nível, no ensino regular. Ficamos muitas vezes realizados, no dia-a-dia, com as pequenas grandes vitórias dos nossos alunos. É claro que, quando os mesmos decidem seguir uma carreira musical e conseguem fazê-lo, a sensação é de grande realização profissional.

Quais são os alunos de maior sucesso da EMOL?
Esta é uma pergunta que, pela quantidade de ex-alunos e alunos que têm tido impacto nacional e internacional, pode tornar-se injusta. Posso referir nomes como o Pedro João Rodrigues, guitarrista de renome nacional e internacional, premiado por diversas vezes em concursos enquanto aluno e ex-aluno da escola; o Nuno Antunes, clarinetista que tem centrado a sua actividade profissional nos EUA, também foi premiado em diversos concursos nacionais e internacionais; o João Santos, professor de Órgão de Tubos na EMOL, que tem realizado inúmeros concertos pela Europa; a Ilda Coelho, conhecida pelo trabalho notável que tem desenvolvido na área da pedagogia; a Marina Camponês, licenciada em flauta transversal, que ganhou recentemente o Prémio Jovens Músicos – RDP; o Cristiano da Felismina, licenciado em piano e com um vasto número de concertos no país; os professores António Casal, Margarida Neves, Sónia Leitão, Gonçalo Neto, que têm realizado concertos a solo e com diversas orquestras e ensembles; os ex-alunos Ricardo Pereira, Laura Felício, Tomás Rosa que têm sido premiados em diversos concursos nacionais e internacionais. Ainda existem os ex-alunos que enveredaram pelo Jazz, como o caso do Joel Silva, que já é uma consagração na bateria em Portugal e que, numa das últimas edições da revista Jazz.pt, deu uma entrevista na qual refere as diversas experiências que teve enquanto aluno da EMOL (e que são demonstrativas de uma certa nostalgia pela instituição, sentimento recorrente em ex-alunos e professores da escola); o Ivan Silvestre, licenciado também em Jazz – variante saxofone, e que é um dos brilhantes saxofonistas que integra a recém-formada Orquestra de Jazz de Leiria; o Daniel Bernardes, pianista com um trio afirmado no mercado e com diversos projectos neste campo; o César Cardoso, saxofonista com discos editados, membro dos Desbundixie (grupo cujos elementos foram quase todos alunos no Orfeão de Leiria) e director da Orquestra de Jazz de Leiria. No presente, alunos como o André Almeida Ferreira, que tem obtido excelentes resultados em concursos nacionais e internacionais, são representativos do trabalho que tentamos ter na afirmação de uma educação musical de excelência. Gostava também de homenagear um antigo aluno da escola, o Daniel Faria (que infelizmente já não se encontra entre nós), saxofonista de topo, premiado também no Jovens Músicos – RDP, e que tinha um futuro promissor na música.

Que desafios se colocam no futuro à EMOL?
A EMOL quer continuar a assumir-se como uma escola de referência, pelos alunos que vai formando, pelos públicos que vai ajudando a criar e por todas as iniciativas em torno da cultura que desenvolve permanentemente, tendo sempre em vista a qualidade e a oferta formativa para os seus alunos e para a comunidade, apesar das várias contrariedades que têm surgido com as alterações legislativas para o Ensino Vocacional Artístico. Projectos como a implementação do Jazz na escola passam pelo futuro da casa e que, por se encontrarem em processo de construção, ainda não podem ser divulgados.

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