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Cultura

Revolução digital ameaça futuro de várias salas de cinema da região

Cinco já fecharam e nove têm dificuldade em exibir as novidades. Para lá da crise de público, os cinemas da região sofrem com a “ditadura” do digital.

Cinco salas da região já deixaram de passar cinema e há nove com o futuro em risco. A evolução tecnológica da indústria cinematográfica facilita a vida a quem tem pernas (leia-se orçamento) para a acompanhar. Mas compromete a projeção de novidades nas salas que só podem exibir filmes em película.

cinema[1]
Nove salas da região não conseguem projetar a maioria das estreias
O digital tem vantagens mas há um preço a pagar. Pela positiva, além da potencialidade da imagem (para alguns discutível, ainda assim), depois do investimento no equipamento, os custos de aquisição de cada filme a pagar pelo exibidor ficam consideravelmente mais baixos. Além disso, a receção dos filmes é muito mais rápida, porque a internet entra no processo, dispensando a tradicional cedência das bobinas.

Mas renovar uma sala capacitando-a para projetar filmes de última geração pode custar várias dezenas de milhar de euros. A fatura é demasiado pesada para os municípios e privados que assumem a difusão de filmes.

A desatualização tecnológica tem consequências diretas: a maior parte do público “foge” para as salas que exibem as novidades, prejudicando os números da bilheteira. Até ao fim do cinema nesses sítios é uma questão de tempo.

Muitos responsáveis de cinemas da região queixam-se disso mesmo: os lançamentos em película chegam com três a quatro semanas de atraso. Cerca de 95 por cento das novidades surgem no novo formato, sublinha José Pires, diretor do Teatro José Lúcio da Silva.

O público transfere-se para as salas com tecnologia digital – cinco no distrito de Leiria -, ficando muitas cadeiras vazias nos restantes.

Resistir ou desistir

Em Porto de Mós, o sucesso “A Gaiola Dourada”, de Ruben Alves, demorou duas semanas a estar disponível: no Cine-Teatro só existe o sistema de projeção em 35 milímetros (a largura da película), A forma de resistir é comprar os filmes que vão saindo, mesmo com algumas semanas de atraso, nota o diretor da sala.

João Almeida assume ter esperança que o município invista no sistema digital para proporcionar à população do concelho estreias em simultâneo com todo o país.

O Teatro José Lúcio da Silva, em Leiria, é um dos exemplos da rutura. Em 2007, quando se requalificou o histórico edifício, manteve-se a projeção em película de 35 milímetros.

A possibilidade de receber novos filmes era já, então, uma ideia esquecida. José Pires explica que a opção da autarquia foi mudar o conceito da sala, que passou a investir sobretudo em espetáculos de dança, música, teatro e outras artes. Ou seja: a revolução digital ajudou ao sacrifício do cinema no “cinema de Leiria”.

A diversificação do tipo de espetáculo tem sido opção noutros cine-teatros, auditórios e centros culturais da região. Por um lado, aumenta o leque da oferta, por outro equilibra o númerosde entradas e compensa a quebra de receitas com o cinema. A crise chegou à sétima arte independentemente do digital ou do analógico: este é o tempo em que quase todos os filmes estão na internet com iguais doses de facilidade e ilegalidade.

A concorrer para a perda de interessados no cinema “ao vivo” está também a profusão de canais televisivos no cabo, nota Jorge Barroso.

O ex-presidente da Câmara da Nazaré – sem cinema há mais de um ano – considera que há um conjunto alargado de fatores que “condicionam o negócio” de quem projeta filmes. “Sem um programa de apoio por parte do Governo”, vaticina, “a Câmara da Nazaré nunca irá adquirir o sistema de projeção digital”.

Por isso, no Cine-Teatro da Nazaré como em vários outros da região, o cinema acabou há muito tempo. Voltará um dia ou é um definitivo “The End”?

SALAS

A salvo (digital)
CinemaCity Leiria
CinePlace Leiria
Cine-Teatro Ator Álvaro, na Marinha Grande
Vivacine, em Caldas da Rainha
Casa da Cultural de Pedrógão Grande (por abrir)

Em perigo (projeção 35 mm)
Teatro Miguel Franco, em Leiria
Cine Teatro de Monte Real
Centro Cultural e Congressos de Caldas da Rainha
Cine Teatro de Monte Real
Cine Teatro de Alcobaça
Cine Teatro de Porto de Mós
Auditório Pedrógão Grande
Centro Cultural de Ansião
Pombalcine

Sem cinema
Centro Cultural Gonçalves Sapinho, na Benedita (há mais de um ano)
Cine Teatro de Nazaré (há mais de um ano)
Cine Teatro de Ourém (há mais de dois anos)
Casa da Cultura de Figueiró dos Vinhos (há mais de um ano)
Auditório da Batalha (há dois anos)

(Notícia publicada na edição de 3 de outubro de 2013)

Francisco Grosso
Manuel Leiria
redacao@regiaodeleiria.pt


Secção de comentários

  • Joao disse:

    E depois culpam a pirataria por isto e por aquilo. Não fazem investimentos nem planeamento a longo prazo, só procuram o lucro a curto prazo, e depois queixam-se disto e daquilo. Obviamente que se não acompanham as tendências e oferecem o que os clientes procuram, como qualquer negócio tende a morrer. E não me venham com a desculpa de subsidios e que a cultura deve ser sustentada pelo herário público, isso é criar um bando de inuteis que sobrevive sem a pressão de ter que criar mais valias de encontro ao que o mercado procura. Está mais que provado que os bons profissionais adaptam-se ao mercado e não o contrário.

    Os ultimos 4 ou 5 filmes que vi foi em cinema e cheguei a ter oportunidade de visualizar em casa um que já tinha saído para o mercado meses antes. Obviamente o preço dos bilhetes anda a desajustar-se às realidades e isso pesa.

    A questão é que os modelos de negócio ficaram parados no tempo e não oferecem aos clientes as mais valias que eles procuram. Lei do mercado …

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