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Cultura

Vale do Lis. Depois da tempestade, os primeiros sinais de bonança

Os rombos nas margens do Lis continuam a ameaçar o vale. Os agricultores desesperam por soluções sustentáveis e de longo prazo, enquanto surgem algumas ideias para tirar o máximo proveito do rio.

A reabertura parcial dos balneários das Termas de Monte Real e do SPA poderá acontecer no mês de julho. Esta é pelo menos a expectativa de Luís Mexia Alves, diretor geral do complexo termal, que refere a intenção de avançar com obras de recuperação de forma faseada de modo a não perder toda a época termal.

Embora sem o levantamento total da extensão dos danos, o responsável referiu ao REGIÃO DE LEIRIA que os trabalhos deverão avançar em duas fases, sendo que a primeira prevê a abertura definitiva do SPA. Paralelamente, será feita uma intervenção “necessária e indispensável à abertura de alguns circuitos”, ficando outra zona encerrada.

“Trabalharemos este verão de forma temporária e reajustada e, no final da época, fecharemos para fazer as obras a título definitivo”, adianta Luís Mexia Alves, ao mesmo tempo que garante que a qualidade das águas termais não foi afetada pelas recentes inundações.

“Os aquíferos termais não foram afetados porque são consideradas águas de circulação profunda”, esclarece o responsável, referindo que os solos, essencialmente compostos por lodos, lamas e areias “não permitem a permeabilização das águas superficiais”, situação já confirmada através de análises.

Intervenção no perímetro agrícola

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A dinamização da pista de pesca de Monte Real é considerada um bom exemplo de atração turística e de gestão de um troço com cerca de dois quilómetros (fotografia: Joaquim Dâmaso)

Com o espaço envolvente limpo, as Termas parecem ter ganho entretanto nova vida, apesar da ameaça de novas cheias na passada semana, com o registo de mais um rombo nas margens do rio Lis.

Recuperando aos poucos das inundações registadas há precisamente dois meses, agricultores, empresários, autarcas, técnicos e entidades competentes procuraram, segunda-feira, soluções que garantam, no futuro, o desejado escoamento das águas e o aproveitamento do rio nas suas várias dimensões.

Na jornada de debate realizada em torno da gestão da Bacia Hidrográfica do Rio Lis, promovida pela Associação de Regantes e Beneficiários do Vale do Lis (ARBVL), Francisco Gomes da Silva, secretário de Estado das Florestas e Desenvolvimento Rural, anunciou um investimento na ordem de um milhão de euros para a reconversão e recuperação de parte do sistema de rega, que serve uma zona degradada de 300 hectares nas Salgadas, a reposição das margens, entre as quais o dique do Boco, e da linha de rega, obras na estação elevatória da vala da Pedra, em Vieira de Leiria e uma intervenção no canal 2 junto à Ponte das Mestras.

Apesar das intervenções anunciadas e do debate realizado, Uziel Carvalho, agricultor e presidente da direção da ARBVL, não se mostra muito otimista.

“Apreciei a intenção de envolvimento de algumas entidades”, declarou ao REGIÃO DE LEIRIA, pouco convencido contudo quanto a futuros projetos de fundo que permitam assegurar o desenvolvimento agrícola do Vale do Lis e a proteção do rio.

Queixando-se do facto de a ARBVL não ser vista nem achada acerca dos projetos implementados pela diversas entidades competentes no vale do Lis há vários anos, o responsável recorda a instalação de estações de bombagem, há cerca de 10 anos, ao longo do rio. Três porém ficaram instaladas “num nível tão baixo que, quando há inundações, ficam submersas, incluindo os quadros elétricos”, adianta, reportando-se aos custos elevados inerentes à sua reparação e às dificuldades da associação em assumir essa despesa.

Defendendo um “modelo de gestão e financiamento que responde à nova realidade das infraestruturas e dos volumes de água a gerir”, Uziel Carvalho aproveitou a presença de representantes de várias entidades para reclamar “um planeamento adequado”.

“Não podem ser apenas os agricultores a suportar os encargos relativos à gestão da água nesta bacia hidrográfica”, alertou ainda, considerando que a situação “não é um problema só dos agricultores”.

Ainda assim, frisa, cerca de metade dos 430 mil euros do orçamento anual da associação “é gasto em energia destinada a elevar água, na sua grande maioria pluvial e de áreas externas ao perímetro, já que a rega é feita preferencialmente de captações gravíticas”.

“Os agricultores têm estado a assumir um custo de manutenção que não só não os beneficia, como sistematicamente os prejudica”, alertou na abertura da jornada de debate.

Quanto aos encargos e prejuízos registados e que atribui ao “alheamento recorrente a que tem sido votada esta bacia hidrográfica” ultrapassam, “quanto a nós, largamente os valores necessários para os evitar”, defendeu ainda o responsável.

Martine Rainho
martine.rainho@regiaodeleiria.pt

(Notícia publicada na edição de 10 de abril de 2014)

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