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Sociedade

Porque razão é tão fria a água do mar nas praias da nossa região?

O sol está forte, o mar azul e sedutor. Vai um mergulho? Talvez não, não é? Apesar do sufoco no areal, a água do mar nas nossas praias está desconfortavelmente fria. Porquê?

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01 Nas praias da região é frequente ter temperaturas do ar elevadas e a água do mar a 14 ou 15 graus (fotografia: Joaquim Dâmaso)

O calor convida. Mas por que razão a água do mar nas praias da nossa região, teima em manter-se bem longe de uns tépidos e merecidos 20 ou mais graus centígrados? Se quer saber, a culpa é do efeito Coriolis.

Mas será justo suspirar por água do mar a mais de 20 graus nesta zona do globo? Imagine que está na praia da Nazaré. Olhe para Oeste, para o horizonte. Se a curvatura da Terra e um infindável número de outros fatores o permitissem, veria do outro lado, a praia de Long Beach Island, em Nova Jérsia, nos Estados Unidos da América.

Sim, é verdade, essa praia está a um punhado de milhares de quilómetros de distância. Contudo, está precisamente à mesma latitude da praia da Nazaré (ou seja, nem mais a sul nem mais a norte). E por lá, os veraneantes gozam de um mar quase “morno”, com temperaturas na casa dos 22 ou 23 graus, nesta altura do ano. Por vezes, mais.

O que se passa por cá? Por que razão é frequente ter dias de verão com a temperatura da água do mar na casa dos 14 ou 15 graus? A meteorologista Anabela Jorge de Carvalho do IPMA – Instituto do Mar e da Atmosfera, ajuda-nos a perceber. Certamente, no verão, já reparou naquele vento de norte ou noroeste, mais intenso à tarde: o regime de Nortada. Voltaremos à Nortada.

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Imagem da situação de verão: a poucos quilómetros da costa, o mar está bem mais convidativo (imagem: IPM)

Para já, atentemos na explicação de Anabela Jorge de Carvalho: “o enquadramento geofísico associado ao regime de Nortada, que se faz sentir em Portugal continental, em particular nos meses mais quentes, força uma circulação oceânica particular”.

Trata-se do efeito Coriolis que “desvia para a direita, a corrente originada pela nortada”. Quer isto dizer que é produzida uma corrente, de este para oeste, “afastando da costa as águas superficiais e fazendo a ascensão de águas profundas, mais frias e ricas em nutrientes, compensando o movimento das águas superficiais para o largo”, explica a meteorologista. Este é um fenómeno conhecido por upwelling ou afloramento costeiro.

Em suma, é por este motivo que “no verão, nos locais onde a Nortada é mais intensa, formam-se zonas de temperatura mínima junto à costa”.

Se o leitor conclui que, sendo assim, existe água do mar um pouco mais quente não muito longe da costa, acertou. Aliás, um olhar na ferramenta de “previsão da temperatura do mar” no site do IPMA, revela isso mesmo (ver figura ao lado). É possível verificar temperaturas de 14 ou 15 graus junto à costa, e água a 20 graus, e por vezes mais, uns quilómetros mais a ocidente.

Que Nortada é esta?

Voltemos agora à típica Nortada que arrasta toalhas e polvilha bolas de Berlim. Resulta da conjugação de um trio de fatores: o Anticiclone dos Açores, a depressão de origem térmica na Península Ibérica e a brisa marítima.

A ação deste trio coincide com o aumento das diferenças de pressão na região, que por sua vez provocam um crescimento da intensidade do vento, sobretudo ao final de tarde. E entra em ação o tal efeito Coriolis, batizado com o nome do físico francês que o descobriu há quase 180 anos.

Se é certo que esta explicação não aquece nem arrefece a água do mar nas nossas praias, pelo menos quando estiver a enfrentar o mar nestes quentes dias de verão, sempre pode maldizer o efeito Coriolis enquanto o corpo não se habitua à fresca mas rica em nutrientes, água do mar das nossas praias.

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Em Long Beach Island, do outro lado do Atlântico, à mesma latitude, a água do mar chega a ser 8 ou 9 graus mais quente


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