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Cultura

Agentes culturais fazem vigília em Leiria contra “apoios vergonhosos” e pelo futuro do setor

A sobrevivência de quem trabalha nas artes e na cultura complicou-se de forma aguda com a pandemia de Covid-19. Leiria associou-se à vigília nacional que pediu atenção para um setor onde “há artistas a passar fome”.

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Contra “apoios vergonhosos” e “medidas fracas, escassas e dececionantes”, agentes culturais participam hoje em Leiria na Vigília pela Cultura, que procura um futuro para o setor em que “há artistas a passar fome”.

No centro da cidade, com vista para o Castelo de Leiria, às 9 horas marcavam presença na vigília um ator, um bailarino, um músico e um editor. 

A reivindicar “condições de trabalho” e “uma carreira profissional”, Frédéric da Cruz Pires disse à agência Lusa considerar os apoios para a cultura anunciados pelo Governo “vergonhosos”, com medidas “fracas, escassas e dececionantes”.

“Qual é o futuro? O que é que isto nos reserva? Hoje estamos aqui. Se for necessário, amanhã estamos aqui. E se for necessário, para a semana estamos aqui. Alguma coisa tem de ser feita para a sobrevivência do setor, para o bem-estar dos profissionais e para a continuidade da cultura no território nacional”, afirma o ator.

Em Leiria e na zona centro, quem vive da cultura “já estava mal antes da pandemia”. Agora tudo se complicou:

“Há artistas a passar fome, porque não podem fazer rigorosamente nada. Tem de haver novas medidas, mais coerentes. Um milhão e 700 mil não é nada para um setor imenso”, reforça Fredéric. 

Para garantir a subsistência, o bailarino Bruno Alves foi trabalhar para as obras. 

“Até é uma atividade que me satisfaz, mas não é a profissão que escolhi”, conta, esperando que a crise que revelou “a precariedade brutal dos artistas e todo o setor” leva a “uma mudança efetiva” e “um enquadramento legal que regule a atividade cultural”. 

“Os artistas estão todos numa condição de quase extrema pobreza”, sublinha o bailarino da Companhia Olga Roriz. 

A vida também se complicou para David Teles Ferreira, que entretanto se juntou à vigília. O ator e declamador ficou “sem rendimentos” e lembra todos os que estão em situação semelhante:

“Artistas não são apenas aqueles que dão a cara. São também os técnicos e todos os que lhes dão condições para darem a cara”, lembra David Teles Ferreira. Por isso, importa “não deixar morrer as pessoas de fome”.

Também numa fase difícil estão os Whales, banda de Leiria. Vasco Silva, um dos músicos, esteve na vigília e explicou que, atualmente, cada elemento está a trabalhar para seu lado.

“Estamos cada um por si. É como se estivessemos a fazer individualmente música para a banda”, diz Vasco, que trabalha na cooperativa CCER Mais, que integra a editora Omnichord Records.

“Não está a ser fácil. Todo o trabalho ficou estagnado também aí. Estamos numa fase de reflexão interna, de reorganização”. E, sobretudo, “de analisar o mercado e percebo o que se vai passar no futuro”.

“Estamos a trabalhar muito digitalmente e cada vez mais nas redes sociais, em estratégias de lançamento diferenciadas e vanguardistas” porque é preciso imaginar “como ganhar dinheiro de outras formas”.

“A tecnologia é uma escada até lá”, acredita Vasco, que se já encarava a sobrevivência no futuro a partir da música “uma grande incógnica”, agora “é ainda mais”.

Para Hugo Ferreira, fundador da Omnichord Records e presidente da CCER Mais, “há debilidades muito antigas e muito trabalho precário” num setor onde falta “profissionalização” e “espírito empresarial”.

Os modelos de financiamento e apoios deram sempre a mensagem errada, defende, porque nunca favoreceram “estruturas com funcionários a contrato em relação às que se baseiam em trabalho precário”. 

Alterar isso pode ser a solução mas, para já, há que garantir que a cultura não desapareça em Portugal:

“Não vale a pena só investir em aviação, em banca, darmos 3,5 milhões para um grupo de comunicação enquanto todo o setor cultural tem um milhão. Há que repensar o paradigma e pensar: queremos que a nossa sociedade estupidifique ou queremos continuar a construir uma vida melhor para nós e para os nossos filhos?”.

Hugo Ferreira defende que o Governo precisa de mais “transparência e sensibilidade”: 

“Não estou a lutar para pedir o que quer que seja para a minha instituição. Se o paradigma não for alterado rapidamente, este setor vai definhar e as pessoas só vão dar por isso quando não for mais possível recuperá-lo”. 

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