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Sociedade

Banco Alimentar: Recolher onde sobra para distribuir onde faz falta

Há 17 anos que o Banco Alimentar Contra a Fome de Leiria-Fátima faz chegar alimentos a quem mais precisa. Esta é a instituição que a campanha “Fazer o bem olhando a quem” apoia este ano.

Quase quarenta anos separam as idades do antigo e do novo presidente do Banco Alimentar Contra a Fome de Leiria-Fátima. Ao fim de vários mandatos à frente da instituição Adelino Simões, 82 anos, passou o testemunho a António Oliveira, 45 anos.

A nova direção entra numa fase de grandes desafios, tão grandes quanto as ideias que trazem para modernizar a unidade, situada nos Parceiros, no concelho de Leiria. António Oliveira confessa que “chegar a uma estrutura hierarquizada, com uma missão bem definida e numa altura em que a máquina está a alta velocidade, não é fácil”.

António Oliveira assumiu a frente do BA Leiria-Fátima há cerca de um mês Foto: Joaquim Dâmaso

No entanto, os objetivos estão bem definidos e passam por manter a unidade aberta todos os dias da semana, pelo menos durante a tarde, para receber as pessoas e os seus donativos, bem como conquistar novos voluntários.

A nova direção pretende ainda obter apoios junto do Instituto do Emprego e Formação Profissional e do Politécnico de Leiria para a realização de estágios e estabelecer protocolos juntos dos super e hipermercados da região para poderem recolher os produtos alimentares que seriam desperdiçados. “Queremos trazer uma lógica de modernização”, acrescenta António Oliveira.

O novo presidente do BA Leiria-Fátima “sempre teve o desejo de fazer parte de uma instituição desta natureza” e acredita que a população continua a confiar no Banco Alimentar. Quando isso se verifica, a solidariedade sai a ganhar: “A solidariedade prevalece sobre as más energias, sobre os mal intencionados, e isso faz valer tudo a pena”.

O Banco Alimentar de Leiria-Fátima foi escolhido este ano para receber o apoio da campanha “Fazer o bem olhando a quem”, do REGIÃO DE LEIRIA. A próxima edição do jornal, de 17 de dezembro, será solidária e o valor da venda em banca e junto de empresas da região reverterá a favor da instituição.

Mais 700 novos pedidos desde a pandemia

Os efeitos do novo coronavírus entraram no BA de Leiria-Fátima como uma tempestade, com novos pedidos a chegar em catadupa. Foram registados 700 novos pedidos de ajuda, todos eles consequência da covid-19, nos nove concelhos abrangidos pela unidade – Leiria, Alvaiázere, Batalha, Porto de Mós, Marinha Grande, Pombal, Figueiró dos Vinhos, Pedrógão Grande, Alvaiázere e Ourém.

Adelino Simões, presidente cessante da direção, explica que “há um mundo enorme de pessoas que seriam facilmente atingidas pela pandemia”, como trabalhadores da área doméstica, feirantes e pequenos comerciantes, a quem chama de “sectores invisíveis”. A ausência de trabalho e os despedimentos originaram muitos pedidos de ajuda.

Adelino Simões (à esquerda) fez parte da fundação do BA Leiria-Fátima Foto de arquivo: Joaquim Dâmaso

Com a suspensão das campanhas nos supermercados – a maior fonte de abastecimento dos BA – houve necessidade de encontrar outras soluções. Foi assim que surgiu a Rede de Emergência Alimentar (REA): “Os estatutos não permitiam que se andasse a fazer peditórios continuadamente ao longo do tempo, porque não faz parte da missão do Banco Alimentar”, explica António Oliveira.

Assim, a REA foi criada para recolher donativos em dinheiro, entregar à Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares, que depois distribui equitativamente pelas diferentes unidades, garantindo as reservas necessárias.

Adelino Simões admite que o novo sistema “surtiu um efeito brutal”, especialmente através de campanhas televisivas. Além disso, tornou-se também possível fazer donativos em alimento ou dinheiro através das plataformas digitais do Banco Alimentar.

Nos supermercados, está a decorrer até ao dia 13 uma campanha de venda de vales que serão convertidos em alimentos. “Conseguiu-se um stock que permitiu fazer o plano de distribuição habitual”, avança o ex-presidente. Plano esse que passa por receber as 60 instituições da área de apoio do BA Leiria-Fátima que distribuem os alimentos a quem necessita, uma vez que os Bancos Alimentares fazem a gestão dos bens alimentares, mas não têm contacto direto com os beneficiários.

Voluntariado? Basta querer e poder

Para Adelino Simões, a missão do Banco Alimentar é fácil de definir: “Se há um sítio com excedentes e há outro com fome, alguém tem que surgir aqui no meio e resolver o problema. É só isto”. Fez parte da fundação do BA Leiria-Fátima e acredita que, apesar de ter saído da direção, vai continuar presente, já que ali “o tempo não custa a passar”.

A unidade nos Parceiros conta com 12 voluntários residentes, onde se incluem os membros da direção, e as campanhas nos supermercados reunem, em média, 1.500. Adelino Simões resume as características fundamentais para se ser voluntário em duas palavras, “querer e poder”. A juntar a isso, é essencial uma boa relação com os colegas.

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