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Epilepsia: Nem todos os casos têm cura mas podem ser controlados

Ainda persistem mitos sobre a epilepsia, doença neurológica que afeta em Portugal cerca de 60 mil pessoas. Aproveitamos o Dia Internacional da Epilepsia para ajudar a desfazê-los.

Hans Peter Grebe
Neurologista
Policlínica da Benedita
Coordenador da consulta de Epilepsia no CH de Entre o Douro e Vouga

Desfazer mitos

“Existe muito a ideia de considerar o doente com epilepsia um indivíduo menos válido. Isto leva a discriminação no trabalho, mas não só. Na realidade, na grande maioria dos casos, as pessoas com epilepsia podem ter a sua doença controlada e são pessoas tão capazes quanto as outras entre as crises. Também existem ideias erradas sobre a possibilidade de transmissão da doença de uma pessoa para outra, o que implica marginalização dos doentes. Às vezes a epilepsia também é mal interpretada como uma doença psiquiátrica ou algo místico, inclusivamente há doentes submetidos a exorcismo.

O que é a epilepsia?

A epilepsia define-se pela ocorrência recorrente de atividade elétrica anómala no cérebro, que determina as crises epiléticas.

Como se manifesta?

Os sintomas variam muito em função das regiões do cérebro envolvidas na ativação anómala. Podem ser muito subtis, como uma breve paragem de atividade com um olhar alheio, comportamentos automáticos mais complexas ou crises convulsivas envolvendo todo o corpo.

As causas podem ser diversas?

A epilepsia tanto pode ser causada por uma anomalia genética, como pode ser expressão de uma anomalia do desenvolvimento do cérebro ou consequência de uma alteração estrutural adquirida (por trauma, inflamação, enfarte cerebral ou outra)

Existem diferenças entre a epilepsia na infância e na idade adulta?

A epilepsia na infância difere da epilepsia na idade adulta tanto nas causas como nas formas de apresentação. Na terceira idade, hoje em dia a faixa etária com mais casos novos de epilepsia, a apresentação clínica pode ser menos “típica” o que pode dificultar o diagnóstico.

A epilepsia pode estar associada a outras doenças?

Há múltiplas doenças que podem causar epilepsia como referido anteriormente. Também há outras doenças que são mais frequentes entre pessoas com epilepsia que na população geral.

Quais os principais fatores de risco?

São convulsões febris na infância, meningite e trauma.

Como podem os doentes prevenir as crises/convulsões?

Uma vez diagnosticada uma epilepsia, os doentes devem tomar a medicação prescrita, de forma regular e correta. Para além disso, devem procurar ter hábitos regulares de sono e devem evitar bebidas alcoólicas.

O que podem as pessoas fazer ao presenciarem convulsões?

Devem afastar objetos nos quais o doente se possa magoar, devem tentar colocar o doente deitado de lado. Devem proporcionar um ambiente calmo e reconfortante. Se a crise não ceder dentro de dois minutos, devem chamar uma ambulância.

O que não devem fazer?

Não devem tentar introduzir a mão ou objetos na boca do doente. Devem evitar comportamentos confrontativos com um doente que possa estar agitado no fim da crise.

A epilepsia tem cura?

Há formas de epilepsia que desaparecem espontaneamente com o tempo. Consoante a causa, a remoção da mesma também pode curar a epilepsia. Na maioria dos casos trata-se de uma condição onde conseguimos controlar a doença, mas não curá-la.

Quais os tratamentos disponíveis?

Fora do tratamento de eventuais doenças subjacentes, o pilar principal de tratamento é a medicação com fármacos anticonvulsivos. Hoje em dia já existem muitos fármacos diferentes e é possível talhar o tratamento às necessidades de cada doente específico, consoante a síndrome epilética do doente, as outras doenças que possa ter e eventuais interações com outros medicamentos. Em algumas situações específicas, e nos doentes que não se consegue controlar com medicamentos, pode eventualmente haver lugar para tratamento cirúrgico, dietético ou por estimulação elétrica.

(Artigo publicado originalmente no Diretório de Saúde 2020 do RL, onde pode encontrar esclarecimentos de especialistas sobre outros temas)

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