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Cultura

Museu na Aldeia volta à estrada em abril para levar cultura a localidades isoladas

Em paralelo, será realizado um documentário sobre o processo e desenvolvido um estudo científico, focado no impacto sociológico e museológico do projeto.

O projeto Museu na Aldeia volta a ligar museus e localidades isoladas no território da candidatura de Leiria a Capital Europeia da Cultura 2027, a partir de 6 de abril, desconfinando para a segunda fase do programa.

Lançado no final de 2020, Museu na Aldeia foi interrompido devido à pandemia, mas regressa para cumprir, até ao fim de 2022, o desejo de unir 13 museus e 13 aldeias dos 26 municípios que integram a Rede Cultura 2027, numa programação pensada pela Sociedade Artística Musical dos Pousos (SAMP).

Antes do confinamento, a equipa ainda conseguiu visitar três comunidades, mas depois foi suspenso devido à pandemia. Contudo, os primeiros passos revelaram a importância da proposta, garante a diretora do projeto, Raquel Gomes.

“A primeira reação de muitos idosos é dizer: ‘Já não tenho idade para isso, se eu fosse mais nova é que era’ ou ‘Eu já não presto e aqui é só velhos…’, e questionam porque é que vamos ali. Mas depois de estarem connosco percebe-se que estão sedentos de estar com alguém, de conviver e é muito bom”.

A equipa da SAMP detetou situações críticas em aldeias atingidas pelos fogos, onde há “desespero e um grande sentimento de abandono”.

“As pessoas têm muito o trauma de que nada foi feito e nós ouvimos isso. Acham que também os vamos abandonar. É uma responsabilidade grande que temos: não os abandonar no fim disto acabar”, admite Raquel Gomes.

A par do efeito social, a componente museológica tem revelado a riqueza, sobretudo etnográfica, destes locais quase esquecidos.

“Como diz a nossa museóloga, são poucas comunidades onde não se poderia fazer ali um museu”.

Museu na aldeia. Em cada uma das aldeias mais pequenas há pessoas e também museus

No regresso, a partir de 6 de abril, Museu na Aldeia parte à descoberta das dez localidades que falta visitar.

“Até 17 de maio vamos fazer duas ou três sessões nessas comunidades, preparando a visita das peças de cada museu a essas comunidades”.

Depois, o objeto atribuído pelos museus a cada uma das aldeias vai ali ficar, “inspirando durante esse tempo os idosos para a criação de uma outra peça, que vai ser desenvolvida até dezembro e que pode ser património material ou imaterial, como uma história”, exemplifica a responsável.

Mais tarde, entre janeiro e maio de 2022, o resultado desse exercício é apresentado em 13 performances nos 13 museus: “Será um segundo ponto alto, em que os residentes nas aldeias vão aos museus ver a sua peça exposta no museu, em destaque, num momento que queremos que seja especial, com música, artistas, atores e bailarina”. 

Em paralelo, será realizado um documentário sobre o processo e desenvolvido um estudo científico, focado no impacto sociológico e museológico do projeto. Também está prevista uma exposição itinerante com as 13 peças a criar e a possibilidade de replicação de Museu na Aldeia noutros territórios.

“Vamos deixar um caderno com tudo o que está a ser feito, para permitir a disseminação, para que qualquer autarquia ou associação, que queira, possa pegar e alargar este trabalho a outras comunidades e aldeias”, frisa Raquel Gomes.

No final, a intenção é ir além da criação artística pura e simples: “O primeiro objetivo é que estas pessoas sintam que são válidas, que ainda estão vivas e que as respeitamos e admiramos. Queremos valorizar estas pessoas, que nunca tiveram oportunidade de ter acesso à cultura. Vamos dizer-lhe que têm direito e que a cultura vai até elas”.

Para Raquel Gomes, é fundamental “mostrar à sociedade que se está a perder imenso ao desprezar estas pessoas”.

“Ao visitar estes locais percebemos, através da riqueza destas pessoas, que esquecemos na correria do dia-a-dia o que é mais importante. Estas pessoas lembram-nos e dizem-nos o que é mais importante”, conclui.

Foto de arquivo: Joaquim Dâmaso

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