A comitiva ucraniana presente na Taça da Europa de Lançamentos está fisicamente em Portugal mas com o coração na Ucrânia, afirmou hoje em Leiria a atleta Iryna Klymets.
“O meu corpo está aqui, em Portugal, mas o meu coração está na Ucrânia, com a minha família, a minha pátria. Com a minha Ucrânia”, vincou a lançadora à agência Lusa, admitindo ser “estranho e difícil” processar o facto de estarem em competição enquanto há guerra no país natal.
“Sei que temos de treinar, de nos preparar e competir, porque é a nossa vida. Queremos mostrar ao mundo que somos fortes, que não estamos felizes com o que nos aconteceu e que lutamos pelos nossos sonhos, pelo nosso país. Queremos mostrar toda a força do povo ucraniano”, disse a lançadora de martelo.
Duas vezes atleta olímpica – Rio2016 e Tóquio2020 -, cinco vezes representante da Ucrânia em mundiais de atletismo, Iryna, de 27 anos, integra a comitiva de seis elementos (cinco atletas e uma chefe de missão) que está em Leiria.
Por tudo o que está a acontecer, a presença dos ucranianos na Taça da Europa de Lançamentos reveste-se de simbolismo especial:
“É difícil explicar o nosso sentimento neste momento. Quero agradecer à federação europeia, à federação portuguesa e à federação polaca que ajudaram a estarmos aqui e termos hipóteses de treinar e de nos prepararmos para a época, e também a Leiria e à Juventude Vidigalense o acolhimento nestes três dias. Mas é doloroso saber que os nossos pais estão a sofrer na Ucrânia”.
Natural de Lutsk, uma cidade a ocidente da Ucrânia, perto da fronteira com a Polónia e a 400 quilómetros da capital Kiev, Iryna tem de conter as lágrimas quando fala “da destruição da cidade, com os bombardeamentos aéreos de ontem à noite”.
“É muito assustador”, lamenta.
Sem treinar há duas semanas por causa da guerra, a martelista viajou até Portugal com outras três lançadoras. Já Mykhailo Kokhan, igualmente especialista no martelo, só conseguiu participar na Taça da Europa de Lançamentos porque estava em estágio na Turquia.
//= generate_google_analytics_campaign_link("leitores_frequentes_24m") ?>“Caso contrário estava incorporado no exército, como acontece com todos os homens entre os 18 e os 60 anos”, frisou a atleta, que serviu de porta-voz do grupo.
Apesar do conflito que aflige e destrói a Ucrânia, Iryna Klymets mantém as metas desportivas bem vivas:
“Os meus objetivos são o Mundial no Oregon [nos Estados Unidos da América] e o Europeu em Munique [na Alemanha]. Quero conquistar medalhas nessas competições, sei que sou capaz e vou lutar por isso. Enquanto o meu povo luta no terreno, eu vou lutar noutro campo, na minha especialidade, para elevar a bandeira da Ucrânia”.
Depois da Taça da Europa de Lançamentos, o grupo irá para outro torneio de preparação na Turquia. Mas, por enquanto, não voltará à Ucrânia, “enquanto a situação não melhorar. É perigoso viver quando há ataques todos os dias…”.
Para Tânia Vieira, presidente da Juventude Vidigalense, “é uma vitória. Para nós é uma grande felicidade podermos ter a Ucrânia” na Taça da Europa de Lançamentos, que o clube de Leiria organiza, diz a responsável, citada pelo serviço de comunicação de Leiria Cidade Europeia do Desporto (LCED).
Através da LCED, Dobromir Karamarinov, presidente da Associação Europeia de Atletismo, considera que “o desporto tem o poder de enviar uma mensagem de esperança e reunir atletas de diferentes origens e culturas. Coloca-os em igualdade de condições, onde a única linguagem é a da competição e do jogo limpo”.
Mykhailo Kokhan foi o primeiro ucraniano do grupo a entrar em competição em Leiria, este sábado: o martelista venceu em sub-23, lançando 74,59 metros.
No domingo, entram em ação Iryna Klymets (martelo), Alyona Shut (martelo), Daria Garkusha (disco, sub-23) e Olena Khamaza (martelo, sub-23).